Foi comunicada a Moisés, enquanto se achava no monte com
Deus, esta ordem: “E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (Êxodo
25:8), e foram dadas instruções completas para a construção do tabernáculo. Em
virtude de sua apostasia, os israelitas ficaram despojados da bênção da
presença divina, e por algum tempo impossibilitaram a ereção de um santuário
para Deus, entre eles. Mas, depois de novamente haverem sido recebidos no favor
do Céu, o grande chefe procedeu à execução do mando divino. {CS 25.1}
Homens escolhidos foram especialmente dotados por Deus de
habilidade e sabedoria para a construção do sagrado edifício. O próprio Deus
deu a Moisés o plano daquela estrutura, com instruções específicas quanto ao
seu tamanho e forma, materiais a serem empregados, e cada peça que fazia parte
do aparelhamento que deveria a mesma conter. Os lugares santos, feitos a mão,
deveriam ser “figura do verdadeiro”, “figuras das coisas que estão no Céu”
(Hebreus 9:24, 23) — uma representação em miniatura do templo celestial, onde
Cristo, nosso grande Sumo-Sacerdote, depois de oferecer Sua vida em sacrifício,
ministraria em prol do pecador. Deus expôs perante Moisés, no monte, um aspecto
do santuário celestial, e mandou-lhe fazer todas as coisas de acordo com o
modelo a ele mostrado. Todas estas instruções foram cuidadosamente registradas
por Moisés, que as comunicou aos chefes do povo. {CS 25.2}
Para a edificação do santuário, grandes e dispendiosos
preparativos eram necessários; grande quantidade dos materiais mais preciosos e
caros era exigida; todavia o Senhor apenas aceitava ofertas voluntárias. “De
todo o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a Minha
oferta” (Êxodo 25:2), foi a ordem divina repetida por Moisés à congregação. A
devoção a Deus e o espírito de sacrifício eram os primeiros requisitos ao
preparar-se uma morada para o Altíssimo. {CS 26.1}
Todo o povo correspondeu unanimemente. “E veio todo o homem,
a quem o seu coração moveu, e todo aquele cujo espírito voluntariamente o
excitou, e trouxeram a oferta alçada ao Senhor para a obra da tenda da
congregação, e para todo o seu serviço, e para os vestidos santos. E assim
vieram homens e mulheres, todos dispostos de coração: trouxeram fivelas, e
pendentes, e anéis, e braceletes, todo o vaso de ouro; e todo o homem oferecia
oferta de ouro ao Senhor.” Êxodo 35:21, 22. {CS 26.2}
“E todo o homem que se achou com azul, e púrpura, e
carmesim, e linho fino, e pêlos de cabra, e peles de carneiro tintas de
vermelho, e peles de texugos, os trazia; todo aquele que oferecia oferta alçada
de prata ou de metal, a trazia por oferta alçada ao Senhor: e todo aquele que
se achava com madeira de setim, a trazia para toda a obra do serviço. {CS 26.3}
“E todas as mulheres sábias de coração fiavam com as suas
mãos, e traziam o fiado, o azul e a púrpura, o carmesim, e o linho fino. E
todas as mulheres, cujo coração as moveu em sabedoria, fiavam os pêlos das
cabras. E os príncipes traziam pedras sardónicas, e pedras de engastes para o
éfode e para o peitoral, e especiarias, e azeite para a luminária, e para o
óleo da unção, e para o incenso aromático.” Êxodo 35:23-28. {CS 26.4}
Enquanto a construção do santuário estava em andamento, o
povo, velhos e jovens — homens, mulheres e crianças — continuou a trazer suas
ofertas até que aqueles que tinham a seu cargo o trabalho acharam que tinham o
suficiente, e mesmo mais do que se poderia usar. E Moisés fez com que se
proclamasse por todo o acampamento: “Nenhum homem nem mulher faça mais obra
alguma para a oferta alçada do santuário. Assim o povo foi proibido de trazer
mais.” Êxodo 36:6. As murmurações dos israelitas e as visitações dos juízos de
Deus por causa de seus pecados, estão registradas como advertência às gerações
posteriores. E sua devoção, zelo e liberalidade, são um exemplo digno de
imitação. Todos os que amam o culto a Deus, e prezam as bênçãos de Sua santa
presença, manifestarão o mesmo espírito de sacrifício ao preparar-se uma casa
onde Ele possa encontrar-Se com eles. Desejarão trazer ao Senhor uma oferta do
melhor que possuem. Uma casa construída para Deus não deve ser deixada em
dívida, pois desta maneira Ele é desonrado. Uma porção suficiente para realizar
o trabalho deve ser dada livremente, a fim de que os operários digam: ... “Não
tragais mais ofertas.” {CS 26.5}
O tabernáculo e sua
construção
O tabernáculo foi construído de tal maneira que podia ser
todo desmontado e levado com os israelitas em todas as suas jornadas. Era,
portanto, pequeno, não tendo mais de vinte metros de comprimento, e seis de
largura e altura. Contudo, era uma estrutura magnificente. A madeira empregada
para a edificação e seu aparelhamento era a acácia, menos sujeita a arruinar-se
do que qualquer outra que se podia obter no Sinai. As paredes consistiam em
tábuas verticais colocadas em encaixes de prata, e mantidas firmemente por
colunas e barras que as ligavam; e todas estavam cobertas de ouro, dando ao
edifício a aparência de ouro maciço. O teto era formado de quatro jogos de
cortinas sendo a mais interior de “linho fino torcido, e azul, púrpura, e
carmesim; com querubins as farás de obra esmerada” (Êxodo 26:1); as outras três
eram respectivamente de pêlo de cabras, pele de carneiro tingida de vermelho, e
pele de texugo, dispostas de tal maneira que proporcionassem proteção completa.
{CS 27.1}
O edifício era dividido em dois compartimentos por uma rica
e linda cortina, ou véu, suspensa de colunas chapeadas de ouro; e um véu
semelhante fechava a entrada ao primeiro compartimento. Estes véus, como a
cobertura interior que formava o teto, eram das mais belas cores, azul, púrpura
e escarlata, lindamente dispostas, ao mesmo tempo que trabalhados a fios de
ouro e prata havia neles querubins para representarem a hoste angélica, que se
acha em conexão com o trabalho do santuário celestial, e são espíritos
ministradores ao povo de Deus na Terra. {CS 27.2}
A tenda sagrada ficava encerrada em um espaço descoberto
chamado o pátio, que estava rodeado de cortinas ou anteparos, de linho fino,
suspensos de colunas de cobre. A entrada para este recinto ficava na
extremidade oriental. Era fechado com cortinas de custoso material e bela
confecção, se bem que inferiores às do santuário. Sendo os anteparos do pátio
apenas da metade da altura das paredes do tabernáculo aproximadamente, o
edifício podia ser perfeitamente visto pelo povo do lado de fora. No pátio, e
bem perto da entrada, achava-se o altar de cobre para as ofertas queimadas, ou
holocaustos. Sobre este altar eram consumidos todos os sacrifícios feitos com
fogo ao Senhor, e os seus cornos eram aspergidos com o sangue expiatório. Entre
o altar e a porta do tabernáculo, estava o lavadouro, que também era de cobre,
feito dos espelhos que tinham sido ofertas voluntárias das mulheres de Israel.
No lavadouro os sacerdotes deveriam lavar as mãos e os pés sempre que entravam
nos compartimentos sagrados ou se aproximavam do altar para oferecerem uma
oferta queimada ao Senhor. {CS 27.3}
No primeiro compartimento, ou lugar santo, estavam a mesa
dos pães da proposição, o castiçal ou candelabro, e o altar de incenso. A mesa
com os pães da proposição ficava do lado do norte. Com a sua coroa ornamental,
era ele coberto de ouro puro. Sobre esta mesa os sacerdotes deviam cada sábado
colocar doze pães, dispostos em duas colunas, e aspergidos com incenso. Os pães
que eram removidos, sendo considerados santos, deviam ser comidos pelos
sacerdotes. Do lado do sul estava o castiçal de sete ramos, com as suas sete
lâmpadas. Seus ramos eram ornamentados com flores artisticamente trabalhadas,
semelhantes a lírios, e o todo era feito de uma peça de ouro maciço. Não
havendo janelas no tabernáculo, nunca ficavam apagadas todas as lâmpadas a um
tempo, mas espargiam a sua luz dia e noite. Precisamente diante do véu que
separava o lugar santo do santíssimo e da presença imediata de Deus, achava-se
o áureo altar de incenso. Sobre este altar o sacerdote devia queimar incenso
todas as manhãs e tardes; seus cornos
eram tocados com o sangue da oferta para
o pecado, e era aspergido com sangue no grande dia de expiação. O fogo neste
altar era aceso pelo próprio Deus, e conservado de maneira sagrada. Dia e noite
o santo incenso difundia sua fragrância pelos compartimentos sagrados, e fora,
longe, em redor do tabernáculo. {CS 28.1}
Além do véu interior estava o santo dos santos, onde se
centralizava o serviço simbólico da expiação e intercessão, e que formava o elo
de ligação entre o Céu e a Terra. Neste compartimento estava a arca, uma caixa
feita de acácia, coberta de ouro por dentro e por fora, e tendo uma coroa de
ouro em redor de sua parte superior. Fora feita para ser o receptáculo das
tábuas de pedra, sobre as quais o próprio Deus escrevera os Dez Mandamentos.
Daí o ser ela chamada a arca do testemunho de Deus, ou a arca do concerto,
visto que os Dez Mandamentos foram a base do concerto feito entre Deus e
Israel. {CS 28.2}
A cobertura da arca sagrada chamava-se propiciatório. Este
era feito de uma peça inteiriça de ouro, e encimado por querubins do mesmo
metal, ficando um de cada lado. Uma asa de cada anjo estendia-se ao alto,
enquanto a outra estava fechada sobre o corpo em sinal de reverência e
humildade. Vede Ezequiel 1:11. A posição dos querubins, tendo o rosto voltado
um para o outro, e olhando reverentemente abaixo para a arca, representava a
reverência com que a hoste celestial considera a lei de Deus, e seu interesse
no plano da redenção. {CS 29.1}
Acima do propiciatório estava o shekinah, manifestação da presença divina; e dentre os querubins
Deus tornava conhecida a Sua vontade. Mensagens divinas às vezes eram
comunicadas ao sumo-sacerdote por uma voz da nuvem. Algumas vezes uma luz caía
sobre o anjo à direita, para significar a aprovação ou aceitação; ou uma sombra
ou nuvem repousava sobre o que ficava ao lado esquerdo, para revelar reprovação
ou rejeição. {CS 29.2}
A lei de Deus, encerrada na arca, era a grande regra de
justiça e juízo. Aquela lei sentenciava a morte ao transgressor; mas acima da
lei estava o propiciatório, sobre o qual se revelava a presença de Deus, e do
qual, em virtude da obra expiatória, se concedia o perdão ao pecador arrependido.
Assim na obra de Cristo pela nossa redenção, simbolizada pelo ritual do
santuário, “a misericórdia e a verdade se encontraram: a justiça e a paz se
beijaram.” Salmos 85:10. {CS 29.3}
Nenhuma linguagem pode descrever a glória do cenário
apresentado dentro do santuário — as paredes chapeadas de ouro que refletiam a
luz do áureo castiçal, os brilhantes matizes das cortinas ricamente bordadas
com seus resplendentes anjos, a mesa e o altar de incenso, brilhante pelo ouro;
além do segundo véu a arca sagrada, com os seus querubins místicos, e acima
dela o santo shekinah, manifestação
visível da presença de Jeová; tudo não era senão um pálido reflexo dos
esplendores do templo de Deus no Céu, o grande centro da obra pela redenção do
homem. {CS 29.4}
Um espaço de tempo, de aproximadamente meio ano foi ocupado
na construção do tabernáculo. Quando este se completou, Moisés examinou toda a
obra dos construtores, comparando-a com o modelo a ele mostrado no monte, e com
as instruções que de Deus recebera. “Como o Senhor a ordenara, assim a fizeram:
então Moisés os abençoou.” Êxodo 39:43. Com ávido interesse as multidões de
Israel juntaram-se em redor para ver a estrutura sagrada. Enquanto estavam a
contemplar aquela cena com satisfação reverente, a coluna de nuvem pairou sobre
o santuário e, descendo, envolveu-o. “E a glória do Senhor encheu o
tabernáculo.” Êxodo 40:34. Houve uma revelação da majestade divina, e por algum
tempo mesmo Moisés não pôde entrar ali. Com profunda emoção o povo viu a
indicação de que a obra de suas mãos fora aceita. Não houve ruidosas
manifestações de regozijo. Temor solene repousava sobre todos. Mas sua alegria
de coração transbordou em lágrimas de gozo, e murmuravam em voz baixa ardorosas
palavras de gratidão de que Deus houvesse condescendido em habitar com eles.
{CS 29.5}
Os sacerdotes e suas
vestimentas
Por determinação divina a tribo de Levi foi separada para o
serviço do santuário. Nos tempos primitivos cada homem era o sacerdote de sua
própria casa. Nos dias de Abraão o sacerdócio era considerado direito de
primogenitura do filho mais velho. Agora, em lugar dos primogénitos de todo o
Israel, o Senhor aceitou a tribo de Levi para a obra do santuário. Por meio
desta honra distinta manifestou Ele Sua aprovação à fidelidade da mesma, tanto
por aderir ao Seu serviço como por executar Seus juízos quando Israel apostatou
com o culto ao bezerro de ouro. O sacerdócio, todavia, ficou restrito à família
de Arão. A este e seus filhos, somente, permitia-se ministrar perante o Senhor;
o resto da tribo estava encarregada do cuidado do tabernáculo e de seu
aparelhamento, e deveria auxiliar os sacerdotes em seu ministério, mas não
deveria sacrificar, queimar incenso, ou ver as coisas sagradas antes que
estivessem cobertas. {CS 30.1}
De acordo com as suas funções, foi indicada ao sacerdote uma
veste especial. “Farás vestidos santos a Arão teu irmão, para glória e
ornamento” (Êxodo 28:2) — foi a instrução divina a Moisés. A veste do sacerdote
comum era de linho alvo, e tecida em uma só peça. Estendia-se até quase os pés,
e prendia-se à cintura por um cinto branco de linho, bordado de azul, púrpura e
vermelho. Um turbante de linho, ou mitra, completava seu traje exterior. A
Moisés, perante a sarça-ardente, foi determinado que tirasse as sandálias,
porque a terra em que estava era santa. Semelhantemente os sacerdotes não
deveriam entrar no santuário com sapatos nos pés. Partículas de pó que a eles
se apegavam, profanariam o lugar santo. Deviam deixar os sapatos no pátio,
antes de entrarem no santuário, e também lavar tanto as mãos como os pés, antes
de ministrarem no tabernáculo, ou no altar dos holocaustos. Desta maneira
ensinava-se constantemente a lição de que toda a contaminação devia ser
removida daqueles que se aproximavam da presença de Deus. {CS 30.2}
As vestes do sumo-sacerdote eram de custoso material e de
bela confecção, em conformidade com a sua elevada posição. Em acréscimo ao
traje de linho do sacerdote comum, usava uma vestimenta de azul, também tecida
em uma única peça. Ao longo das fímbrias era ornamentada com campainhas de
ouro, e romãs de azul, púrpura e escarlate. Por sobre isto estava o éfode, uma
vestidura mais curta, de ouro, azul, púrpura, escarlate e branco. Era preso por
um cinto das mesmas cores, belamente trabalhado. O éfode não tinha mangas, e em
suas ombreiras bordadas de ouro achavam-se colocadas duas pedras de ónix, que
traziam os nomes das doze tribos de Israel. {CS 31.1}
Sobre o éfode estava o peitoral, a mais sagrada das
vestimentas sacerdotais. Este era do mesmo material que o éfode. Era de forma
quadrada, media um palmo, e estava suspenso dos ombros por um cordão de azul,
por meio de argolas de ouro. As bordas eram formadas de uma variedade de pedras
preciosas, as mesmas que formam os doze fundamentos da cidade de Deus. Dentro das
bordas havia doze pedras engastadas de ouro, dispostas em fileiras de quatro, e
como as das ombreiras, tendo gravados os nomes das tribos. As instruções do
Senhor foram: “Arão levará os nomes dos filhos de Israel no peitoral do juízo
sobre o seu coração, quando entrar no santuário, para memória diante do Senhor
continuamente.” Êxodo 28:29. Assim Cristo, o grande Sumo -Sacerdote, pleiteando
com Seu sangue diante do Pai, em prol do pecador, traz sobre o coração o nome
de toda alma arrependida e crente. Diz o salmista: “Eu sou pobre e necessitado;
mas o Senhor cuida de mim.” Salmos 40:17. {CS 31.2}
O Urim e Tumim
À direita e à esquerda do peitoral havia duas grandes pedras
de grande brilho. Estas eram conhecidas por Urim e Tumim. Por meio delas
fazia-se saber a vontade de Deus pelo sumo-sacerdote. Quando se traziam perante
o Senhor questões para serem decididas, uma auréola de luz que rodeava a pedra
preciosa à direita, era sinal do consentimento ou aprovação divina, ao passo
que uma nuvem que ensombrava a pedra à esquerda, era prova de negação ou
reprovação. {CS 31.3}
A mitra do sumo-sacerdote consistia no turbante de alvo
linho, tendo presa no mesmo, por um laço de azul, uma lâmina de ouro que trazia
a inscrição: “Santidade ao Senhor.” Todas as coisas ligadas ao vestuário e
conduta dos sacerdotes deviam ser de molde a impressionar aquele que as via,
dando-lhe uma intuição da santidade de Deus, santidade de Seu culto, e pureza
exigida daqueles que iam à Sua presença. {CS 32.1}
Os serviços do
santuário*
Não somente o santuário em si mesmo, mas o ministério dos
sacerdotes, deviam servir “de exemplar e sombra das coisas celestiais.” Hebreus
8:5. Assim, foi isto de grande importância; e o Senhor, por meio de Moisés, deu
a mais definida e explícita instrução concernente a cada ponto deste ritual
típico. O ministério do santuário consistia em duas partes: um serviço diário e
outro anual. O cerimonial diário era efetuado no altar dos holocaustos, no
pátio do tabernáculo, bem como no lugar santo; ao passo que o serviço anual o
era no lugar santíssimo. {CS 32.2}
Nenhum olho mortal a não ser o do sumo sacerdote devia ver o
compartimento interno do santuário. Apenas uma vez ao ano podia o sacerdote
entrar ali, e isto depois da mais cuidadosa e solene preparação. Com tremor entrava
perante Deus, e o povo, com reverente silêncio, aguardava a sua volta, tendo
erguido o coração em oração fervorosa pela bênção divina. Diante do
propiciatório o sumo sacerdote fazia expiação por Israel; e na nuvem de glória
Deus Se encontrava com ele. Sua demora ali, além do tempo costumeiro, enchia-os
de receio de que, por causa de seus pecados ou dos dele, houvesse sido morto
pela glória do Senhor. {CS 32.3}
O culto cotidiano consistia no holocausto da manhã e da
tarde, na oferta de incenso suave no altar de ouro, e nas ofertas especiais
pelos pecados individuais. E também havia ofertas para os sábados, luas novas e
solenidades especiais. {CS 32.4}
Toda manhã e tarde, um cordeiro de um ano era queimado sobre
o altar, com sua apropriada oferta de manjares, simbolizando assim a
consagração diária da nação a Jeová, e sua constante necessidade do sangue
expiatório de Cristo. Deus ordenara expressamente que toda a oferta apresentada
para o ritual do santuário fosse “sem mácula”. Êxodo 12:5. Os sacerdotes deviam
examinar todos os animais levados para sacrifício, e rejeitar todo aquele em
que se descobrisse algum defeito. Apenas uma oferta “sem mácula” poderia ser um
símbolo da perfeita pureza dAquele que Se ofereceria como “um cordeiro
imaculado e incontaminado”. 1 Pedro 1:19. O apóstolo Paulo aponta para esses
sacrifícios como uma ilustração do que os seguidores de Cristo devem tornar-se.
Diz ele: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os
vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto
racional.” Romanos 12:1. Devemos entregar-nos ao serviço de Deus e procurar que
a oferta se aproxime o máximo possível da perfeição. Deus não Se agradará de
coisa alguma inferior ao melhor que podemos oferecer. Aqueles que O amam de
todo o coração, desejarão dar-Lhe o melhor serviço de sua vida, e estarão
constantemente procurando pôr toda a faculdade de seu ser em harmonia com as leis
que promoverão sua habilidade para fazerem a Sua vontade. {CS 32.5}
Na oferta do incenso o sacerdote era levado mais diretamente
à presença de Deus do que em qualquer outro ato do ministério diário. Como o
véu interno do santuário não se estendia até ao alto do edifício, a glória de
Deus, manifestada por cima do propiciatório, era parcialmente visível no
primeiro compartimento. Quando o sacerdote oferecia incenso perante o Senhor,
olhava em direção à arca; e, subindo a nuvem de incenso, a glória divina descia
sobre o propiciatório e enchia o lugar santíssimo, e muitas vezes ambos os
compartimentos, de tal maneira que o sacerdote era obrigado a afastar-se para a
porta do santuário. Como naquele cerimonial típico o sacerdote olhava pela fé
ao propiciatório que não podia ver, assim o povo de Deus deve hoje dirigir suas
orações a Cristo, seu grande Sumo Sacerdote que, invisível aos olhares humanos,
pleiteia em seu favor no santuário celestial. {CS 33.1}
O incenso que subia com as orações de Israel, representa os
méritos e intercessão de Cristo, Sua perfeita justiça, que pela fé é atribuída
ao Seu povo, e unicamente pode tornar aceitável a Deus o culto de seres
pecadores. Diante do véu do lugar santíssimo, estava um altar de intercessão
perpétua; diante do lugar santo, um altar de expiação contínua. Pelo sangue e
pelo incenso deveriam aproximar-se de Deus — símbolos aqueles que apontam para
o grande Mediador, por intermédio de quem os pecadores podem aproximar-se de
Jeová, e por meio de quem unicamente, a misericórdia e a salvação podem ser
concedidas à alma arrependida e crente. {CS 33.2}
Quando os sacerdotes, pela manhã e à tardinha, entravam no
lugar santo à hora do incenso, o sacrifício diário estava pronto para ser
oferecido sobre o altar, fora, no pátio. Esta era uma ocasião de intenso
interesse para os adoradores que se reuniam junto ao tabernáculo. Antes de
entrarem à presença de Deus pelo ministério do sacerdote, deviam empenhar-se em
ardoroso exame de coração e confissão de pecado. Uniam-se em oração silenciosa,
com o rosto voltado para o lugar santo. Assim ascendiam suas petições com a
nuvem de incenso, enquanto a fé se apoderava dos méritos do Salvador prometido
prefigurado pelo sacrifício expiatório. As horas designadas para o sacrifício
da manhã e da tardinha eram consideradas sagradas, e, por toda a nação judaica,
vieram a ser observadas como um tempo reservado para a adoração. E, quando, em
tempos posteriores, os judeus foram espalhados como cativos em países
distantes, ainda naquela hora designada voltavam o rosto para Jerusalém e
proferiam suas petições ao Deus de Israel. Neste costume têm os cristãos um
exemplo para a oração da manhã e da noite. Conquanto Deus condene um mero ciclo
de cerimónias, sem o espírito de adoração, olha com grande prazer àqueles que O
amam, prostrando-se de manhã e à noite, a fim de buscar o perdão dos pecados
cometidos e apresentar seus pedidos de bênçãos necessitadas. {CS 34.1}
Os pães da proposição eram conservados sempre perante o
Senhor como uma oferta perpétua. Assim, era isto uma parte do sacrifício
cotidiano. Era chamado o pão da proposição, ou “pão da presença”, porque estava
sempre diante da face do Senhor. Êxodo 25:30. Era um reconhecimento de que o
homem depende de Deus, tanto para o pão temporal como o espiritual, e de que
este é recebido apenas pela mediação de Cristo. Deus alimentara Israel no
deserto com pão do Céu e ainda dependiam eles de Sua munificência tanto para o
pão temporal como para as bênçãos espirituais. Tanto o maná como o pão da
proposição apontavam para Cristo, o pão vivo, que sempre está na presença de
Deus por nós. Ele mesmo disse: “Eu sou o pão vivo que desceu do Céu.” João
6:48-51. O incenso era posto sobre os pães. Quando o pão era retirado cada
sábado, para ser substituído por outro, fresco, o incenso era queimado sobre o
altar, em memória, perante Deus. {CS 34.2}
A parte mais importante do ministério diário era o serviço
efetuado em prol do indivíduo. O pecador arrependido trazia a sua oferta à
porta do tabernáculo e, colocando a mão sobre a cabeça da vítima, confessava
seus pecados, transferindo-os assim, figuradamente, de si para o sacrifício
inocente. Pela sua própria mão era então morto o animal, e o sangue era levado
pelo sacerdote ao lugar santo e aspergido diante do véu, atrás do qual estava a
arca que continha a lei que o pecador transgredira. Por esta cerimónia,
mediante o sangue, o pecado era figuradamente transferido para o santuário.
Nalguns casos o sangue não era levado ao lugar santo mas a carne deveria então
ser comida pelo sacerdote, conforme instruiu Moisés aos filhos de Arão,
dizendo: “O Senhor a deu a vós, para que levásseis a iniquidade da
congregação.” Levítico 10:17.* Ambas as cerimónias simbolizavam semelhantemente
a transferência do pecado, do penitente para o santuário. {CS 35.1}
Tal era a obra que dia após dia continuava, durante o ano
todo. Os pecados de Israel, sendo assim transferidos para o santuário, ficavam
contaminados os lugares santos, e uma obra especial se tornava necessária para
sua remoção. Deus ordenara que se fizesse expiação por cada um dos
compartimentos sagrados, assim como pelo altar, para o purificar “das
imundícias dos filhos de Israel”, e o santificar. Levítico 16:19. {CS 35.2}
O dia da expiação
Uma vez ao ano, no grande dia da expiação, o sacerdote
entrava no lugar santíssimo para a purificação do santuário. O trabalho ali
efetuado completava o ciclo anual do ministério. {CS 35.3}
No dia da expiação dois bodes eram trazidos à porta do
tabernáculo, e lançavam-se sortes sobre eles, “uma sorte pelo Senhor, e a outra
sorte pelo bode emissário.” O bode sobre o qual caía a primeira sorte deveria
ser morto como oferta pelos pecados do povo. E o sacerdote deveria levar seu
sangue para dentro do véu, e aspergi-lo sobre o propiciatório. “Assim fará
expiação pelo santuário por causa das imundícias dos filhos de Israel e das
suas transgressões, segundo todos os seus pecados: e assim fará para a tenda da
congregação que mora com eles no meio das suas imundícias.” Levítico 16:16. {CS
36.1}
“E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo,
e sobre ele confessará todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as
suas transgressões, segundo todos os seus pecados: e os porá sobre a cabeça do
bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para isso. Assim
aquele bode levará sobre si todas as iniquidades deles à terra solitária.”
Levítico 16:21, 22. Antes que o bode tivesse desta maneira sido enviado não se
considerava o povo livre do fardo de seus pecados. Cada homem deveria afligir
sua alma, enquanto prosseguia a obra da expiação. Toda ocupação era posta de
lado, e toda a congregação de Israel passava o dia em humilhação solene perante
Deus, com oração, jejum e profundo exame de coração. {CS 36.2}
Importantes verdades concernentes à obra expiatória eram
ensinadas ao povo por meio deste serviço anual. Nas ofertas para o pecado
apresentadas durante o ano, havia sido aceito um substituto em lugar do
pecador; mas o sangue da vítima não fizera completa expiação pelo pecado.
Apenas provera o meio pelo qual este fora transferido para o santuário. Pela
oferta do sangue, o pecador reconhecia a autoridade da lei, confessava a culpa
de sua transgressão, e exprimia sua fé n´Aquele que tiraria o pecado do mundo;
mas não estava inteiramente livre da condenação da lei. No dia da expiação o
sumo sacerdote, havendo tomado uma oferta para a congregação, ia ao lugar
santíssimo com o sangue e o aspergia sobre o propiciatório, em cima das tábuas
da lei. Assim se satisfaziam os reclamos da lei, que exigia a vida do pecador.
Então, em seu caráter de mediador, o sacerdote tomava sobre si os pecados e,
saindo do santuário, levava consigo o fardo das culpas de Israel. À porta do
tabernáculo colocava as mãos sobre a cabeça do bode emissário e confessava
sobre ele “todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas
transgressões, segundo todos os seus pecados”, pondo-as sobre a cabeça do bode.
E, assim como o bode que levava esses pecados era enviado dali; tais pecados,
juntamente com o bode, eram considerados separados do povo para sempre. Este
era o cerimonial efetuado como “exemplar e sombra das coisas celestiais.”
Hebreus 8:5. {CS 36.3}
Uma figura das coisas
que estão no céu
Como foi declarado, o santuário terrestre fora construído
por Moisés, conforme o modelo a ele mostrado no monte. Era uma figura para o
tempo então presente, no qual se ofereciam tanto dons como sacrifícios; seus
dois lugares santos eram “figuras das coisas que estão no Céu”; Cristo, nosso
grande Sumo Sacerdote, é “ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o
qual o Senhor fundou, e não o homem.” Hebreus 9:9, 23; 8:2. Sendo em visão
concedida a João uma vista do templo de Deus no Céu, contemplou ele ali “sete
lâmpadas de fogo” que ardiam diante do trono. Viu um anjo, “tendo um incensário
de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os
santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono.” Apocalipse 4:5; 8:3.
Com isto permitiu-se ao profeta ver o primeiro compartimento do santuário
celestial; e viu ali as “sete lâmpadas de fogo” e o “altar de ouro”
representados pelo castiçal de ouro e o altar de incenso no santuário
terrestre. Novamente, “abriu-se no Céu o templo de Deus” (Apocalipse 11:19), e
ele olhou para dentro do véu interno, no santo dos santos. Ali viu a “arca do
Seu concerto”, representada pelo escrínio sagrado construído por Moisés a fim
de conter a lei de Deus. {CS 37.1}
Moisés fizera o santuário terrestre “segundo o modelo que
tinha visto”. Paulo declara que “o tabernáculo e todos os vasos do ministério”,
quando se acharam completos, eram “figuras das coisas que estão no Céu”. Atos
dos Apóstolos 7:44; Hebreus 9:21, 23. E João diz que viu o santuário no Céu.
Aquele santuário em que Jesus ministra em nosso favor, é o grande original, de
que o santuário construído por Moisés era uma cópia. {CS 37.2}
Do templo celestial, morada do Rei dos reis, onde milhares
de milhares O servem, e milhões de milhões estão diante d´Ele (Daniel 7:10),
templo repleto da glória do trono eterno, onde serafins, seus guardas resplandecentes,
velam o rosto em adoração; sim, desse templo, nenhuma estrutura terrestre
poderia representar a vastidão e glória. Todavia, importantes verdades
relativas ao santuário celestial e à grande obra ali prosseguida em prol da
redenção do homem, deveriam ser ensinadas pelo santuário terrestre e seu
cerimonial. {CS 37.3}
Depois de Sua ascensão, nosso Senhor iniciaria Sua obra como
nosso Sumo Sacerdote. Diz Paulo: “Cristo não entrou num santuário feito por
mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo Céu, para agora comparecer por nós
perante a face de Deus.” Hebreus 9:24. Assim como o ministério de Cristo devia
consistir em duas grandes divisões, ocupando cada uma delas um período de tempo
e tendo um lugar distinto no santuário celeste, semelhantemente o ministério
típico consistia em duas divisões — o serviço diário e o anual — e a cada um
deles era dedicado um compartimento do tabernáculo. {CS 38.1}
Assim como Cristo, por ocasião de Sua ascensão, compareceu à
presença de Deus, a fim de pleitear com Seu sangue em favor dos crentes
arrependidos, assim o sacerdote, no ministério diário, aspergia o sangue do
sacrifício no lugar santo em favor do pecador. {CS 38.2}
O sangue de Cristo, ao mesmo tempo que livraria da
condenação da lei o pecador arrependido, não cancelaria o pecado; este ficaria
registrado no santuário até à expiação final; assim, no serviço típico, o
sangue da oferta pelo pecado removia do penitente o pecado, mas este permanecia
no santuário até ao dia da expiação. {CS 38.3}
Purificação do registro
de pecados
No grande dia da paga final, os mortos devem ser “julgados
pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.”
Apocalipse 20:12. Então, pela virtude do sangue expiatório de Cristo, os
pecados de todo o verdadeiro arrependido serão eliminados dos livros do Céu.
Assim o santuário estará livre ou purificado, do registro de pecado. No tipo,
esta grande obra de expiação, ou cancelamento de pecados, era representada
pelos serviços do dia de expiação, a saber, pela purificação do santuário
terrestre, a qual se realizava pela remoção dos pecados com que ele ficara
contaminado, remoção efetuada pela virtude do sangue da oferta para o pecado.
{CS 38.4}
Assim como na expiação final os pecados dos verdadeiros
arrependidos serão apagados dos registros do Céu, para não mais serem lembrados
nem virem à mente, assim no serviço típico eram levados ao deserto, para sempre
separados da congregação. {CS 38.5}
Visto que Satanás é o originador do pecado, o instigador
direto de todos os pecados que ocasionaram a morte do Filho de Deus, exige a
justiça que Satanás sofra a punição final. A obra de Cristo para a redenção dos
homens e purificação do Universo da contaminação do pecado, encerrar-se-á pela
remoção dos pecados do santuário celestial e deposição dos mesmos sobre
Satanás, que arrostará a pena final. Assim no serviço típico, o ciclo anual do
ministério encerrava-se com a purificação do santuário e confissão dos pecados
sobre a cabeça do bode emissário. Em tais condições, no ministério do tabernáculo
e do templo que mais tarde tomou o seu lugar, ensinavam-se ao povo cada dia as
grandes verdades relativas à morte e ministério de Cristo, e uma vez ao ano sua
mente era transportada para os acontecimentos finais do grande conflito entre
Cristo e Satanás, e para a final purificação do Universo, de pecado e
pecadores. — Patriarcas e Profetas, 355-371. {CS 39.1}
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