Texto principal
"Sabendo que não foi mediante coisas incorruptíveis, como
prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos
pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem
mácula, o sangue de Cristo" (1Pe 1:18, 19).
“O salário do pecado
é a morte” (Rm 6:23). Sendo assim, todos nós deveríamos morrer, visto que todos
somos pecadores. Mas não morremos porque um Substituto assumiu nosso lugar. No
sistema do santuário, esta verdade é ilustrada de forma dramática: o animal
sacrifical se tornava o portador dos pecados do penitente e, em consequência,
morria. Cristo, como Cordeiro de Deus (Jo 1:29), era simbolizado nos
sacrifícios rituais. À luz de tais sacrifícios podemos compreender um pouco do
sacrifício e ministério de Cristo. Como já visto, o santuário é o meio para
solucionar uma situação antagónica: ali é o lugar da morada do Deus santo, no
meio de um acampamento repleto de pecadores. Como conciliar essa realidade?
Através do sistema ritual, em que os sacrifícios realizados solucionavam o
problema da culpa do pecador e restabeleciam a relação entre o Deus santo e o
pecador penitente. Devemos atentar para os detalhes de uma legislação que não
deixou sequer uma brecha por onde o pecador pudesse escapar. Ao contrário, tudo
foi pensado de maneira a resgatar o transgressor e levá-lo de volta a um
relacionamento harmonioso com seu Criador.
O sistema sacrifical provavelmente seja a parte mais
conhecida do ritual do santuário, porque é a que aponta diretamente para o
sacrifício de Cristo. O sangue do animal que morria pelo pecador se torna um
símbolo do sangue de Cristo, que morreu por nós.
Nesta semana, estudaremos vários conceitos ligados à
"oferta da purificação" (também chamada de "oferta pelo
pecado"), que foi a forma designada por Deus para nos ajudar a entender
melhor como Ele nos reconcilia consigo mesmo mediante o único e verdadeiro
sacrifício: Jesus Cristo. Às vezes, esta lição usa o termo oferta da
purificação em lugar de oferta pelo pecado, para evitar a impressão de que, por
exemplo, dar à luz uma criança era considerado uma falha moral, uma vez que a
mãe que acabava de dar à luz devia apresentar tal oferta (Lv 12:5-8). Esse
sacrifício é mais bem compreendido como oferta de purificação por sua impureza
ritual, e não como um sacrifício por causa do pecado.
Pecado e misericórdia
Como os que conhecem o Senhor podem testemunhar, o pecado
nos separa de Deus. A boa notícia é que o Senhor colocou em prática um sistema
para acabar com a separação causada pelo pecado e nos levar de volta para Ele.
Evidentemente, o sacrifício está no centro desse sistema.
Existem basicamente três tipos de pecado descritos no Antigo
Testamento, cada um correspondendo ao nível de consciência do pecador quando
ele cometeu a transgressão: pecado inadvertido ou involuntário, pecado
deliberado ou intencional, e pecado de rebelião. As "ofertas de
purificação" prescritas em Levítico 4:1–5:13 se aplicavam a casos de
pecado não intencional, bem como a alguns casos de pecado deliberado (Lv 5:1).
Enquanto havia uma oferta para essas duas primeiras categorias de pecado,
nenhuma oferta foi mencionada para o pecado de rebelião, o
tipo mais hediondo. O pecado de rebelião era cometido "na face" de
Deus, com mão levantada, e o rebelde não merecia nada menos do que ser
eliminado (Nm 15:29-31). No entanto, parece que mesmo nesses casos, como
ocorreu com Manassés, Deus oferecia perdão (2Cr 33:12, 13).
1. O que 2 Samuel 14:9 revela sobre misericórdia, justiça e
culpa? Leia também Dt 25:1, 2; 2Sm 14:1-11
Deus é justo ao perdoar o pecador? Afinal, não é o pecador
injusto e, portanto, digno de condenação (Dt 25:1)?
A história da mulher de Tecoa pode ilustrar a resposta.
Fingindo ser uma viúva, conforme orientação de Joabe, ela foi ao rei Davi,
buscando seu julgamento. Joabe inventou inventou uma história sobre seus dois
filhos, na qual um havia matado o outro, e pediu que ela contasse a Davi. A lei
israelita exigia a morte do assassino (Nm 35:31), mesmo que ele fosse o único
homem que restasse na família. A mulher suplicou a Davi (que atuou como juiz)
permissão para que o filho culpado ficasse livre.
Então, curiosamente, ela declarou: "A culpa, ó rei, meu
senhor, caia sobre mim e sobre a casa de meu pai; o rei, porém, e o seu trono
sejam inocentes" (2Sm 14:9). Tanto a mulher quanto Davi entendiam que, se
o rei decidisse permitir que o assassino ficasse livre, o próprio rei assumiria
a culpa do assassino, e o seu trono de justiça (isto é, sua reputação como
juiz) estaria em perigo. O juiz era moralmente responsável pelo que decidia.
Por isso, a mulher se ofereceu para assumir essa culpa.
Da mesma forma, Deus assumiu a culpa dos pecadores, a fim de
declará-los justos. Para que fôssemos perdoados, o próprio Deus devia suportar
nossa punição. Essa é a razão legal pela qual Cristo tinha que morrer para que
fôssemos salvos.
Comentário: O que
fazer com o pecador? Para ser justo, Deus deveria exigir o “salário”, ou seja,
a morte (Rm 6:23). Mas, para ser misericordioso, Deus deveria perdoá-lo. Como
equilibrar esses dois elementos? Através do sacrifício ritual. Devemos observar
que a legislação previa ofertas para o “pecado por ignorância”, isto é, o
pecado acidental, não intencional, do sacerdote (Lv 4:3), da congregação
(4:13), do príncipe (4:22) e da pessoa comum (4:27). Em comum nesses casos
temos a natureza não intencional do pecado e a prescrição de que uma oferta
pelo pecado deveria ser apresentada para fazer “expiação”. O resultado? O
pecador era perdoado (4:20, 26, 31). No caso da oferta do “príncipe” e da
“pessoa comum”, o sangue não era introduzido no lugar santo, ficando sua
manipulação restrita ao altar de holocaustos no pátio do santuário. Nos outros
dois casos, o sangue era introduzido no lugar santo e aspergido perante o véu e
sobre o altar de incenso. Entretanto, o resultado era o mesmo: as pessoas
envolvidas eram perdoadas. Era restaurada a comunhão com o Deus santo que
habitava o santuário.
Imposição de mãos
2. Leia Levítico 4:27-31. Quais atividades eram realizadas
juntamente com o sacrifício?
O objetivo da oferta era remover o pecado e a culpa do
pecador, transferir a responsabilidade para o santuário, e permitir que o
pecador saísse perdoado e purificado (em casos extremamente raros, a pessoa
poderia trazer certa quantidade da melhor farinha como oferta de purificação.
Embora essa oferta de purificação fosse sem derramamento de sangue, havia o
entendimento de que "sem derramamento de sangue, não há remissão" [Hb
9:22]).
O ritual incluía a imposição das mãos, a morte do animal, a
manipulação do sangue, a queima da gordura, e o consumo da carne do animal. O
pecador que levava a oferta recebia o perdão, mas somente após o ritual do
sangue.
Uma parte crucial desse processo envolvia a imposição das
mãos (Lv 1:4; 4:4). A imposição das mãos transferia o pecado para o animal
inocente.
Depois que o animal era morto, o sangue derramado era usado
para fazer expiação sobre o altar: "Então, o sacerdote, com o dedo, tomará
do sangue da oferta pelo pecado e o porá sobre os chifres do altar do
holocausto; e todo o restante do sangue derramará à base do altar do
holocausto" (Lv 4:25). "Porque a vida da carne está no sangue. Eu
vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto
é o sangue que fará expiação em virtude da vida" (Lv 17:11). Uma vez que
os pecados eram transferidos para o animal pela imposição das mãos, devemos
entender a morte do animal como substitutiva. O animal morria em lugar do
pecador. Isso pode explicar por que o ato de matar o animal tinha que ser
realizado pelo pecador culpado, e não pelo sacerdote.
Da próxima vez que você for tentado a pecar, imagine Jesus
morrendo na cruz e veja você mesmo colocando as mãos sobre Sua cabeça e
confessando seus pecados sobre Ele. Pensar nisso ajuda a entender o preço do
perdão? Como essa ideia pode ajudá-lo a não cair em tentação?
Comentário: O rito da imposição de mãos sobre a cabeça da
vítima sacrifical é explicitamente declarado nos casos da oferta queimada (Lv
1:4), a oferta pelo pecado do sacerdote (4:4), da congregação (4:15), do
príncipe (4:24) e da pessoa comum (4:29). E o que significava? Nos textos
referidos não temos uma informação precisa. Mas no Dia da Expiação, o rito
envolvendo o bode para Azazel explicitamente declara que a imposição de mãos
sobre a cabeça do animal transferia os pecados para ele (ver Lv 16:21).
Encontramos ainda, em contextos não sacrificais, três exemplos em que alguma
coisa é transferida por meio da imposição de mãos: (1) Moisés impôs as mãos
sobre Josué, o qual recebeu o “espírito de sabedoria” (Dt 34:9; cf Nm 27:18);
(2) a dedicação dos levitas, que substituíram os primogênitos do povo de Israel
(Nm 8:18); e (3) o apedrejamento do blasfemador, em que a culpa ficava somente
com o transgressor, isentando a testemunha (Lv 24:14).
A estrutura do ritual sacrifical envolvia algumas ações:
oferecimento do animal sacrifical, imposição de mão (em alguns casos, as duas
mãos), confissão dos pecados, morte da vítima, manipulação do sangue (nesse
caso, a responsabilidade era do sacerdote), e a queima do animal, ou de sua
gordura, fosse fora do arraial ou no altar (dependendo da oferta), o que era um
aroma suave ao Senhor. Assim, a oferta sacrifical ia do pecador penitente para
Deus.
A partir dos exemplos anteriormente mencionados, pode-se
concluir que a observância das atividades rituais resultava em uma
transferência dos pecados do ofertante para a vítima sacrifical e desta para o
santuário, via manipulação do sangue (ou do comer da carne). O animal
sacrificado carregava os pecados e a culpa do ofertante. Desse modo, substituía
o ofertante pecador, dando-lhe condições de permanecer na presença do Deus
santo.
Para reflexão: O sacrifício de Jesus era tipificado no
ritual do santuário. Como você se sente ao entender que Ele carregou sobre Si o
seu pecado? Ou seja, entender que seus pecados foram simbolicamente
transferidos para o Cordeiro de Deus, o que resultou na morte do Salvador?
Transferência de
pecado
"O pecado de Judá está escrito com um ponteiro de ferro
e com diamante pontiagudo, gravado na tábua do seu coração e nas pontas dos
seus altares" (Jr 17:1).
Após a imposição das mãos e a morte do animal, a atividade
seguinte no ritual do sacrifício era a manipulação do sangue. O sacerdote
aplicava o sangue sacrifical às pontas do altar. Como o sangue estava
envolvido, essa parte do ritual estava relacionada à expiação (Lv 17:11). Se o
pecado fosse cometido por uma pessoa comum ou um líder, o sangue era aplicado
sobre o altar do holocausto (Lv 4:25, 30); se o pecado fosse cometido pelo sumo
sacerdote ou por toda a congregação, o sangue era aplicado sobre o altar
interior, o altar do incenso (Lv 4:7, 18).
3. Na transferência do pecado, do pecador para o santuário,
o que significava colocar o sangue sobre as pontas do altar?
As pontas eram os pontos mais altos do altar e, como tais,
poderiam significar a dimensão vertical da salvação. O sangue era levado à
presença de Deus.
Jeremias 17:1 é de especial importância para entender o que
acontecia: o pecado de Judá estava gravado "na tábua do seu coração e nas
pontas dos seus altares". Embora o texto esteja se referindo a altares
envolvidos na adoração idólatra, o princípio é o mesmo: o altar reflete a
condição moral do povo. O sangue transferia a culpa do pecado. O sangue
colocado nas pontas do altar transferia o pecado do pecador para o santuário,
uma verdade fundamental para compreendermos o plano da salvação, revelado no
ritual do santuário terrestre, que simboliza a obra de Cristo no Céu em nosso
favor.
Uma vez que o sangue levava o pecado, ele também contaminava
o santuário. Encontramos um exemplo dessa contaminação nos casos em que o
sangue da oferta da purificação respingava acidentalmente em uma veste, que
precisava ser limpa, não simplesmente em qualquer lugar, mas apenas "no
lugar santo" (Lv 6:27).
Finalmente, a queima da gordura sobre o altar indicava que
tudo em torno da oferta da purificação pertencia a Deus (Lv 3:16).
Graças à morte de Jesus, simbolizada por esses sacrifícios,
nosso pecado foi tirado de nós, colocado sobre Ele e transferido para o
santuário celestial. Isso é fundamental para o plano da salvação.
Como o ritual do santuário ajuda a entender nossa total
dependência de Deus para o perdão dos pecados? Que conforto essa verdade traz a
você? Que importantes responsabilidades vêm com essa mensagem? (leia 1Pe 1:22).
Comentário: Como
foi visto no estudo de segunda-feira, os pecados do ofertante eram transferidos
para a vítima por meio do ritual de imposição de mãos e, mediante a manipulação
do sangue pelo sacerdote, para o santuário (Pecador > vítima >
santuário). Assim, em última instância, o santuário se tornava o receptáculo
final dos pecados do povo. Essa situação explicaria a necessidade da realização
de um ritual específico para purificar o próprio santuário (ver Lição 6).
O rito de manipulação do sangue da oferta pelo pecado estava
vinculado à “classe” do pecador. No caso do “príncipe” e da “pessoa comum”, o sangue
ficava restrito ao altar de holocausto – nos chifres e na base. No caso da
“congregação” e do “sacerdote”, o sangue era aspergido no véu interior e sobre
o altar de incenso. Em ambos os casos, o resultado era o mesmo: os pecados eram
transferidos para o santuário, o qual, por assim dizer, assumia os pecados do
ofertante. Visto que o santuário era a morada de Deus entre Seu povo, o próprio
Deus assumia os pecados do povo, e assim perdoava todos os arrependidos. No
caso do cristão, foi Jesus quem assumiu nosso lugar, e morreu como oferta
sacrifical, para nos conceder o perdão.
Levando o pecado
4. Leia Levítico 6:25, 26; 10:16-18. Que verdade fundamental
é revelada nesses textos?
Ao comer a oferta em um lugar santo, o sacerdote oficiante
"[levaria] a iniquidade" do ofensor. A carne dessa oferta não era
apenas o pagamento pelos serviços dos sacerdotes (caso contrário, Moisés não
teria ficado tão irado com os filhos de Arão por não comê-la), mas ela era uma
parte fundamental da expiação.
De que modo o ato de comer do sacrifício contribuía para o
processo de expiação? Só era exigido que se comesse das ofertas das quais o
sangue não entrava no lugar santo, ou seja, as ofertas do líder e das pessoas
comuns. A Bíblia diz explicitamente que, ao comer do sacrifício o sacerdote
levaria a iniquidade, o que faria a expiação pelo pecador. O simbolismo de levar
a culpa do pecador sugere que ele se tornava livre.
Em hebraico, Êxodo 34:7 diz que Deus "leva a
iniquidade", as mesmas duas palavras hebraicas usadas em Levítico 10:16,
onde está claro que o ato do sacerdote levar o pecado é o que traz perdão ao
pecador. Caso contrário, sem essa transferência, o pecador teria que levar seu
próprio pecado (Lv 5:1), e isso, naturalmente, levaria à morte (Rm 6:23).
A obra do sacerdote de levar o pecado de outra pessoa é
exatamente o que Cristo fez por nós. Ele morreu em nosso lugar. Concluímos,
então, que o trabalho sacerdotal no santuário terrestre tipifica a obra de
Cristo por nós, porque Ele assumiu a culpa dos nossos pecados.
"A bênção vem por causa do perdão; o perdão vem
mediante a fé em que o pecado, do qual nos arrependemos e confessamos, é
suportado pelo grande Portador de pecados. Todas as nossas bênçãos provêm,
assim, de Cristo. Sua morte é o sacrifício expiatório pelos nossos pecados. Ele
é o grande meio através do qual recebemos a misericórdia e o favor de Deus. Ele
é, na realidade, o Originador, Autor, bem como o Consumador de nossa fé"
(Ellen G. White, Manuscript Releases, v. 9, p. 302).
Imagine ficar diante de Deus no juízo. Em que você se
apoiaria: boas obras, observância do sábado, as coisas boas que fez ou as
coisas ruins que não fez? Isso seria suficiente para justificar você diante de
um Deus santo e perfeito? Se não, qual é sua única esperança nesse julgamento?
Comentário: O sangue
da vítima sacrifical oferecida pelo príncipe ou pela pessoa comum não era
levado para dentro do santuário, mas era aspergido nos chifres do altar de
holocausto e derramado na base desse altar. Então, de que maneira era feita a
transferência dos pecados para o santuário? De acordo com a legislação
levítica, o sacerdote oficiante deveria comer uma porção da carne da oferta
pelo pecado. Moisés claramente afirmou esse conceito: “Por que vocês não
comeram a carne da oferta pelo pecado no Lugar Santo? É santíssima; foi-lhes
dada para retirar a culpa da comunidade e fazer propiciação por ela perante o
Senhor” (Lv 10:17). A iniquidade foi transferida do pecador para a vítima
através da imposição de mão e, da vítima, para o sacerdote, mediante o comer da
carne sacrifical. Como resultado, o sacerdote se tornava o portador do pecado e
a expiação era realizada. E por que o sacerdote não era punido, nem sua
santidade era afetada, visto que era portador do pecado? Porque Deus assim
havia prescrito, e habilitado o sacerdócio como um santo instrumento no
processo expiatório (ver Êx 28:38).
No caso da oferta pelo pecado do sacerdote, ou da
congregação – que incluía todo o sacerdócio – a carne não era comida. Nesse
caso, o sacerdote se tornaria o portador de seu próprio pecado e, em
consequência, deveria morrer (Lv 22:9). Então, a carne era queimada fora do
acampamento e o sangue era introduzido no lugar santo do santuário.
Para reflexão: Jesus é nossa oferta sacrifical e, ao mesmo
tempo, nosso Sumo-Sacerdote, que carrega nossos pecados. Como nos sentimos ao
refletir sobre estas realidades?
Perdão
5. Leia Miqueias 7:18-20. Que imagem de Deus encontramos
nessa passagem?
Os três últimos versos do livro de Miqueias focalizam o
relacionamento entre Deus e Seu povo remanescente. De forma bela, o texto
descreve por que Deus é incomparável. Ele é incomparável por causa de Sua graça
e amor perdoador. A característica marcante de Deus, revelada em Miqueias (e em
outros livros da Bíblia), é Sua disposição de perdoar. Miqueias enfatizou esse
ponto usando várias expressões para os atributos (v. 18) e realizações (v. 19,
20) de Deus. Seus atributos e realizações são explicados na linguagem do Credo
Israelita em Êxodo 34:6, 7, uma das mais amadas descrições bíblicas do caráter
de Deus.
Curiosamente, várias palavras fundamentais de Miqueias
7:18-20 também são usadas no Cântico do Servo em Isaías 53, apontando para o
fato de que o meio para o perdão vem dAquele que sofre pelas pessoas.
Infelizmente, nem todos apreciam a divina graça salvadora. O
perdão de Deus não é barato nem automático. Ele envolve lealdade. Os que
experimentaram Sua graça respondem de maneira semelhante, como vemos em
Miqueias 6:8, um texto central no livro. Assim como Deus "tem prazer na
misericórdia", Ele chama Seu povo remanescente para "[amar] a
misericórdia". O povo de Deus imitará o Seu caráter. A vida deles
refletirá Seu amor, Sua compaixão e bondade.
Miqueias 7:18-20, com sua ênfase sobre o perdão, é seguido
pelo livro de Naum 1:2, 3, com sua ênfase no juízo. Isso revela as duas
dimensões do relacionamento de Deus conosco: perdoar o arrependido e punir os
ímpios. Deus é tanto Salvador quanto Juiz. Esses dois aspectos do caráter de
Deus são complementares, não contrários. Um Deus compassivo também pode ser
justo. Sabendo disso, podemos confiar no Seu amor, perdão e justiça final.
Leia Miqueias 6:8. Qual é a vantagem de uma profissão de fé
sem os princípios que revelam a realidade dessa alegação? O que é mais fácil:
afirmar a fé em Jesus ou viver essa fé, conforme expresso em Miqueias 6:8? Você
precisa melhorar nesse aspecto?
Comentário: No livro de Levítico somos lembrados acerca da
seriedade do pecado, de como ele nos separa de Deus. O povo de Deus do passado,
que contemplava – e mesmo empunhava o cutelo em alguns casos – a morte de
inocentes animais, não poderia deixar de perceber sua gravidade. Os animais se
tornavam substitutos, que levavam a culpa pelos pecados. Algumas vezes o pecado
é por ignorância, outras era deliberado. Não obstante, o perdão é concedido ao
transgressor. Sua culpa é expiada e o relacionamento com Deus é restaurado.
Com toda a riqueza de suas cerimónias, o livro de Levítico
aponta para um Deus perdoador, que vai em busca do perdido, que não desiste dos
pecadores. Contudo, para realizar esse ato salvador, é necessário sacrifício.
Agora não mais de animais, mas do próprio Filho de Deus. Ao ser oferecido na
cruz do Calvário, Ele Se tornou nosso sacrifício, o portador de nossos pecados,
para que pudéssemos receber o perdão e ser restaurados em nosso relacionamento
com Deus.
Naturalmente, o cristão verdadeiro, que experimenta a
misericórdia e o perdão de Deus na vida, reconhece sua responsabilidade para
com os semelhantes, oferecendo-lhes, em seu relacionamento diário, a mesma
graça e misericórdia perdoadora que receberam de Deus.
Para reflexão:
Tendo sido perdoado por um Deus amoroso, como temos tratado nosso irmão? Nossa
atitude é misericordiosa, perdoadora, ou vingadora? O que fazer para que nossa
atitude reflita o caráter de nosso Deus?
Comentário de Ellen
White:
"Assim como Cristo, por ocasião de Sua ascensão,
compareceu à presença de Deus, a fim de pleitear com Seu sangue em favor dos
crentes arrependidos, também o sacerdote, no ministério diário, aspergia o
sangue do sacrifício no lugar santo em favor do pecador.
"O sangue de Cristo, ao mesmo tempo que livraria da
condenação da lei o pecador arrependido, não cancelaria o pecado. Este ficaria
registrado no santuário até a expiação final. Assim, no cerimonial típico, o
sangue da oferta pelo pecado removia do penitente o pecado, mas esse permanecia
no santuário até o dia da expiação" (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas,
p. 357).