Todos sabem que os
Dez Mandamentos foram outorgados por Deus no Monte Sinai. Mas por que
especialmente no Monte Sinai?
A Midrash afirma que o Monte Sinai não era a mais alta e a
mais esplêndida das montanhas. Na verdade, é descrita como sendo a menos alta
de todas as montanhas que poderiam ter sido escolhidas. Apesar disso, Deus
escolheu o Sinai para dar a Torá para ensinar-nos uma importante mensagem:
dizer-nos que a humildade é um pré-requisito para o estudo de Torá.
A Torá vem de Deus. Ao ouvirmos uma instrução da Torá,
precisamos da capacidade de ouvir. Esta é uma rara qualidade: geralmente o nosso
próprio ego intromete-se. Ouvimos as nossas próprias ideias, não aquilo que a
Torá está a dizer. A humildade está uma etapa além do nosso ego, um estado de
espírito de ausência de egoísmo, que nos torna receptivos à Torá. Assim é dito
no final da prece diária de Amidá: "Que minha alma seja como o pó - abre
meu coração à Tua Torá."
Um comentário chassídico sobre esta ideia vai um passo além.
Certamente, se a ênfase está na humildade, por que então escolher uma montanha?
A mensagem não teria sido mais profundamente sentida se a Torá fosse entregue numa
planície, ou melhor ainda, num vale?
Este enigma é explicado assim: embora a humildade seja
importante, há muitas ocasiões na vida judaica em que se exige uma atitude mais
enérgica e mais determinada. O sacrifício pessoal, perseverança em face ao
ridículo ou ao desprezo, a prontidão de sofrer pela fé são reações muitas vezes
necessárias.
É interessante que bem no início do Código da Lei Judaica
esteja a afirmação: "Não fique constrangido por zombaria e ridículo."
Se alguém vacilasse no cumprimento de uma lei judaica simplesmente devido à
crítica zombeteira dos outros, logo não existiria mais muita observância das
leis!
Portanto, duas qualidades são necessárias: humildade e
força. A capacidade de ouvir, e também a firmeza de ser capaz de lutar contra a
corrente. Ambas as qualidades estão expressas na imagem do Monte Sinai.
Transcrito por: Ernesto Neto (Eliyahu ben Avraham)
Adaptação por José Carlos Costa