Santuário – Lugar de Encontro

“E Me farão um santuário, para que Eu possa habitar no meio deles” (Êx 25:8).

O santuário é um dos principais instrumentos divinos para nos ensinar o significado do evangelho.
Há uma riqueza de símbolos no santuário, destinados a ensinar, de maneira clara e dramática, as verdades do evangelho. Aqui encontramos a verdade acerca da presença de Deus com o Seu povo, o chamado à santidade, os móveis com todo os significado no plano da salvação, o santuário como o centro da vida do povo de Deus e também como o lugar em que todas as dúvidas relativas a um sentido para a vida poderiam ser respondidas.

Lugar da presença
1. Qual foi o propósito do santuário terrestre no deserto? Que verdade impressionante nos ensina sobre o amor de Deus por nós? Êx 25:8

No Jardim do Éden, o pecado rompeu o relacionamento face a face entre Deus e a humanidade. O pecado privou nossos primeiros pais da livre comunhão com Deus. No entanto, o Criador ainda desejava nos atrair a Ele e desfrutar um profundo relacionamento de aliança com a humanidade caída. Ele começou esse processo ali mesmo no Éden. Séculos mais tarde, ao salvar Israel do Egito e estabelecer o santuário e o sistema de sacrifícios, Deus tomou novamente a iniciativa de trazer a humanidade de volta à Sua presença.

O santuário, portanto, testifica do incessante desejo divino de habitar entre Seu povo. Esse é o plano de Deus (Sl 132:13, 14). Seu objetivo final é relacionamento, e o santuário foi o meio que Ele escolheu para alcançar esse fim. O santuário é a prova concreta da presença divina com Seu povo na Terra.

A partir da descrição do livro de Números capítulo 2, fica evidente que o tabernáculo estava localizado no centro do acampamento quadrado onde, normalmente, no antigo Oriente Médio, o rei colocava sua tenda. Assim, o tabernáculo simboliza que Deus é o Rei de Israel.

Os levitas, por sua vez, colocavam suas tendas ao redor do tabernáculo (Nm 1:53), e as outras tribos acampavam ao redor deles, a certa “distância”, em grupos de três (Nm 2:2). Isso ilustra de forma concreta, tanto a proximidade quanto a distância de Deus.
Outra finalidade do santuário era prover local para um sistema de adoração centralizado e divinamente ordenado. Uma vez que a presença de Deus no meio do povo era prejudicada por suas impurezas e falhas morais, Ele proveu um sistema de sacrifícios e ofertas mediante os quais pecadores poderiam viver e permanecer na presença de um Deus santo.

Assim, nesse contexto, o santuário revelou detalhes sobre o plano da redenção, que incluía não apenas os sacrifícios, mas também o ministério sacerdotal.

No santuário, o Criador do Universo (João 1:1-3), humilhou-Se para habitar entre pessoas sem lar, peregrinos no deserto. Como esse fato ajuda a evitar os preconceitos étnicos, sociais ou culturais contra as pessoas?

Nota: Deus fez um santuário – o jardim do Éden – e nele colocou o homem, para ali habitar e desfrutar a plena comunhão com o Criador. Por causa do pecado, o homem foi expulso desse santuário, sendo assim privado da presença amiga de Deus. Para romper o abismo de separação, Deus ordenou que o homem fizesse um santuário para Ele habitar com os seres humanos (Êx 25:8). Perceba o contraste: o homem rejeitou o santuário feito por Deus; Deus habitou no santuário feito pelo homem. Deus visitou o homem no santuário do Éden; o homem visitou (encontrou) Deus no santuário do deserto. No fim dessa história de encontros e desencontros, o homem voltará ao santuário de Deus, a Nova Jerusalém, e Deus mesmo estará com Suas criaturas (Ap 21:3). Em certo sentido, é um retorno ao santuário do Éden. E o que significa tudo isso? Presença, proximidade, comunhão.

O tabernáculo no deserto ocupava o próprio centro do acampamento, geográfica e simbolicamente. A vida do povo estava ali centralizada. De fato, essa era sua vida. Lembremo-nos de que, antes da ordem para construir o santuário, o povo era cativo no Egito, e não podia desfrutar de maneira tão especial a companhia de Deus. Somente após sua libertação, sua redenção, é que poderia usufruir as bênçãos da presença de seu Libertador. Por isso, o santuário é chamado “tenda do encontro” ou “tenda da congregação”. Nesse espaço Deus e Seu povo poderiam se encontrar (Êx 40:32). Deus está acessível a Seu povo.

Mas, como um povo impuro, pecador, poderia estar na presença de um Deus santo? É o que veremos no decorrer de nosso estudo.

“Sede santos”
Tomarás o óleo da unção, e ungirás o tabernáculo e tudo o que nele está, e o consagrarás com todos os seus pertences; e será santo. Ungirás também o altar do holocausto e todos os seus utensílios e consagrarás o altar; e o altar se tornará santíssimo” (Êx 40:9, 10).

Êxodo 40:9, 10 mostra que o santuário devia ser considerado “santo”. A ideia básica da santidade é separação e singularidade, bem como o senso de pertencer a Deus.

“O ritual simbólico era o elo entre Deus e Israel. As ofertas sacrificais tinham o propósito de prefigurar o sacrifício de Cristo e, assim, preservar no coração das pessoas uma fé inabalável no Redentor vindouro. Para que o Senhor aceitasse seus sacrifícios, continuasse presente com elas e, por outro lado, para que o povo tivesse um correto conhecimento do plano da salvação e uma compreensão adequada de seu dever, era da máxima importância que fossem mantidas, por parte de todos os que estavam associados ao santuário, santidade de coração e pureza de vida, reverência a Deus e estrita obediência aos Seus requisitos” (Ellen G. White, Comentário Bíblico Adventista, v. 2, p. 1116).

2. Qual é a principal razão para que o povo seja santo? Lv 19:2; 1Pe 1:14-16
A santidade de Deus nos transforma e separa para um objetivo especial. Sua santidade é a maior motivação para a conduta ética do Seu povo em todos os aspectos da vida (Lv 19), seja a observância das leis dietéticas (Lv 11:44, 45), a santificação do sacerdote (Lv 21:8) ou o abandono das paixões anteriores (1Pe 1:14). Obviamente, Deus deseja que cresçamos em santidade à medida que nos aproximamos dEle. Essa mudança só pode acontecer mediante a submissão da nossa natureza pecaminosa e disposição de fazer o que é certo, independentemente das consequências.

Ao pensar em seus hábitos, gostos, atividades, etc., quanto do que você é, e do que faz, pode ser considerado “santo”? É uma pergunta difícil, não é mesmo?

Nota explicativa: A santidade é um atributo de Deus por excelência. Em todo o Universo, somente Ele é intrinsecamente santo. Ele é louvado por Sua santidade (Êx 15:11). Os Salmos e Isaías frequentemente se referem a Deus como Santo (Is 1:4; 5:19; Sl 99). Na visão de Isaías, os anjos cantam a Deus aclamando-O “Santo, Santo, Santo” (Is 6:3). No Novo Testamento, Jesus Se dirige a Deus como “Pai santo” (Jo 17:11). Na oração do Senhor encontramos a petição “Santificado seja o Teu nome” e, no Apocalipse, repete-se o tríplice “Santo” de Isaías (cf. Ap 4:6-10). “Que Deus é santo significa que Ele é exaltado, impressionante no poder, glorioso na aparência, puro em Seu caráter” (J. E. Hartley, Word Biblical Commentary: Leviticus, p. 312).

Em Levítico 19:2 encontramos uma base racional para o mandamento de santidade: devemos ser santos porque Deus é santo. Teologicamente, essa doutrina é conhecida como a imitatio dei, ou “imitação de Deus”. Devemos imitar a santidade de Deus. Mas não é uma tarefa fácil definir a santidade. Em termos simples, o “santo” é diferente do profano ou comum. Portanto, o verso poderia ser traduzido assim: “Sereis distintos”, significando que o povo de Deus, ao imitá-Lo, preservaria suas características distintivas em relação a todos os que não praticam a “imitação de Deus”. “A santidade de Deus é contagiante” (Ibid.) e, assim contagiados, os fiéis devem perseguir um “estilo de vida diferente” (B. A. Levine, The JPS Torah Commentary, Leviticus [1989], p. 56) daquele praticado por outras pessoas. Estar na presença santa de Deus produz uma separação do pecado e de tudo o que contamina. E o contrário também é correto: para experimentar a presença santificadora de Deus, os fiéis se separam do pecado.

Mas Levítico 19 apresenta de forma prática o caminho da santidade, que envolve todos os aspectos da vida diária: “fidelidade no culto (3-8, 12, 21, 22, 27, 28, 30, 31), expressão de amor e respeito nos relacionamentos interpessoais (11, 13, 14, 17, 18, 19, 20, 29, 32–34), e a prática da justiça nos negócios e nos tribunais (vv 15, 16, 35, 36). Todas essas leis revelam o desejo de Deus de que Israel pusesse todas as áreas de sua vida em conformidade com Seu santo caráter” (Hartley, p. 312). No caso do sábado, Deus o santificou, assim Seu povo deve imitá-Lo e também santificar o dia de sábado. Deus mostra o caminho, e Seu povo segue (Levine, p. 256). E a importância disso é que a observância apropriada do sábado é “essencial para a vitalidade espiritual” (Hartley, p. 312), e uma vida espiritual sadia resulta em santidade.

Utensílios do santuário
3. Leia Êxodo 31:2-11. O que esses versos nos ensinam sobre a fabricação dos objetos do santuário terrestre? Que relação existe com Gênesis 1:2? (Leia também Êx 25:9)

De todos os objetos do santuário, a arca do testemunho era o símbolo supremo da presença e santidade de Deus. Seu nome é derivado das duas tábuas de pedra da lei, chamadas de “testemunho” (Êx 32:15, 16), e que foram colocadas dentro da arca (Êx 25:16, 21).

Sobre a arca foi colocado o “propiciatório” [a tampa da arca], sobre o qual havia dois querubins que o cobriam com suas asas (Êx 25:17-21). Ele é apropriadamente chamado de “tampa da expiação” (Êx 26:34, NVI, versão em inglês), pois transmite a ideia de que nosso misericordioso e compassivo Deus reconciliou o povo com Ele e providenciou tudo para que ele mantivesse um relacionamento de aliança com o Senhor.

Esse era o lugar em que, uma vez por ano, no Dia da Expiação (Yom Kippur, em hebraico), ocorria a expiação pelo povo e o santuário (Lv 16:14-16). Em Romanos 3:25, Paulo se refere a Jesus como “tampa da expiação” ou “propiciatório” (geralmente traduzido como “propiciação” ou “sacrifício de expiação”), pois o próprio Jesus é o lugar da redenção, Aquele por meio de quem Deus fez expiação pelos nossos pecados.

No lugar santo, o primeiro compartimento, o candelabro provia luz continuamente (Lv 24:1-4), e o altar do incenso produzia a fumaça protetora que ocultava do sacerdote a presença de Deus (Lv 16:12, 13). Sobre a mesa para o pão da presença eram colocados 12 pães, representando as doze tribos de Israel. Pratos, recipientes para incenso, tigelas e taças (Êx 25:29, 30) também foram colocados sobre a mesa. Embora pouca informação seja dada sobre o significado desses itens, parece que eles representavam os elementos de uma refeição de aliança (lembrando Êx 24:11) e serviam como lembrete constante da aliança de Deus com o povo.

Leia Romanos 3:25-28. Que grande esperança se conclui da promessa de salvação “pela fé, independentemente das obras da lei”?

Nota explicativa: O complexo do santuário consistia em três áreas: o pátio, o lugar santo e o lugar santíssimo. Cada uma dessas áreas parece indicar algum grau de santidade e as diferentes pessoas que a poderiam ter. Por exemplo, os adoradores e levitas tinham acesso ao pátio; os sacerdotes ao lugar santo; e o sumo-sacerdote ao lugar santíssimo, uma única vez ao ano.

O altar de sacrifícios, situado no pátio do santuário, estava associado à presença do Senhor. Por meio do altar, os israelitas tinham acesso a Deus (Sl 43:4).

A pia, situada entre o altar de sacrifícios e a entrada do lugar santo (Êx 30:17-21), era usada pelos sacerdotes para lavar suas mãos e pés antes de oficiar no altar ou de entrar no santuário, para preservar sua pureza. A ideia era que Deus e a impureza são incompatíveis e que, portanto, aqueles que desejam ter acesso a Deus devem estar puros (Sl 24:3, 4; At 22:16; Ef 5:26; 1Co 6:11).

A mesa com os pães da presença, no lugar santo, indicava o Senhor como o Provedor do alimento para Seu povo (Ez 16:19; Jo 6:48-51).

O candelabro, também no lugar santo, foi confeccionado de maneira a sugerir a imagem de uma árvore, talvez lembrando a árvore da vida, e apontava para Deus como a fonte da vida. O candelabro, com sua luz sempre a brilhar, estava associado com a omnipresença de Deus, e o óleo que o alimentava, com o poder do Espírito do Senhor (ver Zc 4:10, 6; cf. Ap 4:5).

O altar de incenso estava situado no lugar santo, mas bem em frente do véu que dava acesso ao lugar santíssimo. O incenso, na Bíblia, representa as orações do povo de Deus que sobem até Ele (Sl 141:2; Ap 5:8; 8:3, 4). Simbolicamente, o incenso é um elo entre Deus e Seu povo (Ef 5:2; 2Co 2:14-17; Fp 4:18).

A arca do concerto, ou do testemunho, situada no lugar santíssimo, “era o símbolo supremo da presença e santidade de Deus”. Os querubins sobre a arca estão associados à soberania de Deus (1Sm 4:4; Sl 80:1; 99:1) e com Sua presença como líder e protetor de Seu povo (Nm 10:33-36). Sobre a arca, estava o “propiciatório”, ou “assento (sede) da misericórdia”, “lugar em que os pecados são expiados ou apagados” (kapporeth), que deriva do verbo kipper (expiar, fazer expiação). Portanto, o termo kapporeth (propiciatório) sugere a função dessa parte da arca. Entre os querubins, se manifestava a glória de Deus garantindo a expiação para o pecador arrependido.

Em Romanos 3:25, lemos: “a quem Deus propôs, no Seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a Sua justiça, por ter Deus, na Sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos.” Observe o vínculo que o apóstolo estabeleceu entre a propiciação e o sangue de Jesus (v. 25). O sacrifício de Jesus na cruz pavimenta o caminho que o homem agora pode percorrer em seu retorno a Deus. A morte de Cristo é o meio pelo qual Deus elimina o pecado do Seu povo. Jesus é nossa propiciação, o nosso kapporeth, o “assento (ou lugar) de misericórdia”, o meio pelo qual encontramos propiciação.

Ellen White faz um comentário digno de reflexão acerca desse assunto: “O Pai nos ama, não em virtude da grande propiciação; mas sim proveu a propiciação por isso que nos ama. Cristo foi o instrumento pelo qual Ele pôde derramar sobre um mundo caído Seu infinito amor. ‘Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo’ (2Co 5:19). Na agonia do Getsémani, na morte sobre o Calvário, o coração do infinito Amor pagou o preço de nossa redenção” (Caminho a Cristo, p. 13, 14).

Centro de atividades divinas e comunitárias
4. Leia 1 Reis 8:31-53. O que mais esse texto nos ensina sobre a função do santuário?
Na cerimónia de dedicação do templo recém-construído, o rei Salomão apresentou sete casos de orações específicas que poderiam ser feitas no templo, e que exemplificam o amplo papel dele na vida dos israelitas. O templo era um lugar para buscar perdão (v. 30); para fazer juramentos (v. 31, 32); para fazer súplicas em situações de derrota (v. 33, 34); para fazer petições em períodos de seca (v. 35, 36) ou em outros desastres (v. 37-40). Ele era também um lugar de oração para o estrangeiro (v. 41-43), bem como lugar de petição pela vitória (v. 44, 45).

Que o templo foi concebido para ser uma “Casa de Oração para todos os povos” (Is 56:7) torna-se evidente a partir do fato de que Salomão imaginou o indivíduo israelita, o estrangeiro e todo o povo como suplicantes.

5. O santuário era basicamente o centro ideológico de toda atividade em Israel. A religião não era parte da vida do fiel, nem mesmo uma das mais importantes. Ela era a vida. O que isso nos diz sobre o papel da fé em nossa vida?

Quando as pessoas queriam receber conselhos ou julgamento, ou quando se arrependiam de seus pecados, iam para o santuário. O santuário também foi o centro da vida de Israel durante os anos no deserto. Quando Deus desejava Se comunicar com o povo, fazia isso a partir do santuário (Êx 25:22). Por isso, ele é apropriadamente chamado de “Tenda do Encontro” (Lv 1:1, NVI) ou “tenda da congregação”.

Sua vida de oração é profunda e rica? Ela fortalece sua fé e muda sua vida? Talvez a primeira pergunta que você precisa fazer é: Quanto tempo eu passo em oração?

Nota Explicativa: Para os israelitas, encontrar a Deus no santuário era um ato de adoração. Ali suas necessidades eram satisfeitas. Suas ansiedades eram acalmadas. Saber que Deus estava ali, tão perto, o mais perto que Lhe era possível estar de Seus filhos, apaziguava os corações. A certeza da presença do Pai tem essa propriedade. Eles sabiam que encontrariam no Pai refúgio e conforto. Suas orações seriam ouvidas e sua sede espiritual seria saciada (ver Sl 43:2, 4, 5; 18:6; 63:1, 2).

No templo, os fiéis demonstravam sua gratidão, pagavam seus votos (Sl 66:13-15), confessavam seus pecados e buscavam o perdão do Senhor (Sl 32). As bênçãos e a justiça divinas estavam disponíveis no santuário (Sl 24:3-5).

Resumindo, a vida do povo de Deus girava ao redor do santuário/templo. Nos dias atuais, em que há uma especialidade para cada problema, não existe um centro ao qual recorrer. Existem muitos e, pela atitude de pretensos fiéis, Deus parece não estar em nenhum deles. Enquanto Deus busca proximidade com Seu povo, este parece optar pelo distanciamento, e o Senhor é aquele plano “z”, o último, depois que todas as alternativas humanas foram experimentadas e fracassaram. O resultado é uma vida vazia, destituída de sentido e propósitos, com suas consequências dolorosas e inevitáveis.

Mas o caminho do santuário ainda se encontra aberto para todo aquele que deseja se aproximar do Pai e experimentar a presença de Deus em sua vida.

 “Até que entrei no santuário”
Repetidamente, os Salmos mostram que o santuário desempenha papel importante no relacionamento entre os fiéis e Deus. Bem conhecida é a firme convicção de Davi expressa no fim do Salmo 23, de que ele “[habitaria] na Casa do Senhor para todo o sempre” (v. 6). O maior desejo de Davi no Salmo 27 era o de estar na presença do Senhor, uma presença que era mais bem experimentada no santuário. A fim de mostrar quanto amava o santuário, Davi usou ampla variedade de expressões para se referir a ele, chamando-o de casa do Senhor, templo, tabernáculo e tenda. Era ali que se podia meditar e “contemplar a beleza do Senhor” (Sl 27:4).

As atividades de Deus no santuário ilustram alguns pontos cruciais: Ele mantém seguro o adorador e o ocultará em seu tabernáculo, mesmo em tempos difíceis (Sl 27:5). Deus provê refúgio seguro e garante paz de espírito a todos os que vão à Sua presença. Essas expressões conectam a beleza de Deus ao que Ele faz por Seu povo. Além disso, o ritual do santuário com seu significado simbólico mostra a bondade e a justiça de Deus.

O objetivo final do desejo mais profundo de Davi não era simplesmente estar no santuário, mas que o Senhor estivesse presente com ele. Por isso Davi resolveu buscar a Deus (Sl 27:4, 8).

6. Leia o Salmo 73:1-17. Que ideias Asafe obteve depois de entrar no santuário?
No Salmo 73, Asafe abordou o problema do sofrimento. Ele não conseguia entender o aparente sucesso dos ímpios (v. 4-12) enquanto os fiéis eram afligidos. Ele mesmo quase escorregou (v. 1-3), mas entrar no santuário fez diferença (v. 13-17). Ali Asafe pôde ver o mesmo poder e glória que Davi mencionou no Salmo 63:2 e reconhecer que as condições daquele momento um dia mudariam e a justiça seria feita. Ele pôde refletir novamente sobre a verdade e receber a reafirmação de que os ímpios estão em terreno escorregadio (Sl 73:18-20) e os fiéis estão seguros (v. 21-28). Para os que buscam a Deus, o santuário se torna um lugar de confiança, uma fortaleza de vida, onde Deus os colocará “sobre uma rocha” (Sl 27:5). A partir da verdade ensinada pelo ritual do santuário, podemos realmente aprender a confiar na bondade e na justiça de Deus.

Conclusão: O Salmo 73 produz respostas semelhantes em leitores diferentes, independentemente de tempo, lugar ou posição. Os leitores se sentem aliviados e fortalecidos com palavras tão antigas e que se encaixam perfeitamente em sua condição atual. Parece que o salmista escreveu pensando no caso particular de cada leitor. E por que isso ocorre? Porque, desde a entrada do pecado no mundo, o homem tem lutado com o problema da existência do mal e a atuação de um Deus justo e bom. Muitas vezes, gostaríamos de ver a justiça de Deus em ação, mas isso não acontece. Os que levam uma vida pecaminosa nem sempre são punidos, enquanto os justos frequentemente parecem não ser recompensados. E nos vem à mente o pensamento: “O crime compensa”. O Salmo 73 trata desses assuntos – a prosperidade dos ímpios, o problema do mal e a posição do filho de Deus frente a tudo isso.

O grande problema aqui é que, inicialmente, o salmista estava concentrado nos ímpios, e sua percepção da realidade foi distorcida, visto que seu foco estava mal dirigido. Foi levado a pensar apenas em termos humanos: “ímpios x justos”. Quem está ganhando? O que vale mais a pena? Parece que uma vida baseada no engano, na mentira, na malícia, produz resultados mais favoráveis a uma “boa” vida. Os ímpios prosperam, gozam de boa saúde, ocupam posições destacadas, livres de preocupação, e parece que não lhes falta nada. Por outro lado, muitos fiéis experimentam a pobreza, enfermidades, a morte de pessoas queridas, etc. E essa situação parece se prolongar além do que consideramos suficiente.

O ponto crucial desse salmo é encontrado no verso 17 – “até que entrei no santuário e atinei com o fim deles [dos ímpios]”. A experiência do salmista no santuário o levou a olhar a realidade da perspectiva correta, isto é, da perspectiva de Deus. Se antes ele estava confuso, perplexo, desorientado, sua experiência no santuário, refletindo na grandeza, santidade, poder, amor e justiça de Deus deu-lhe uma nova orientação e aplacou sua angústia. Somente quando Deus ocupa o centro de nossa visão, passamos a ver as coisas como elas realmente são. Os ímpios, por escolherem uma vida sem Deus, estão destinados a perecer (v. 27). Os justos, por confiarem a vida nas mãos de Deus, estão destinados à salvação e felicidade eterna (v. 24).

Como já disse alguém: “Não escreva seu diário ao findar o dia.” A verdadeira compreensão de tudo o que nos aconteceu, ou acontece, nem sempre ocorre imediatamente. Pode demandar toda a nossa vida. Ou ainda pode transcender o nosso tempo neste mundo, e somente na eternidade encontraremos as respostas que buscamos. O que fazer enquanto isso? O salmista indica o caminho: “Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no Senhor Deus ponho o meu refúgio” (v. 28). Aqui ele afirma sua crença na presença eterna de Deus, e sua disposição em permanecer fiel ao Senhor, proclamando “todos os Seus feitos” (v. 28).


Para reflexão: No santuário celestial Cristo permanece realizando Sua obra em favor dos fiéis, respondendo suas dúvidas, sustentando-os com Seu poder. Para quem estamos olhando hoje? Para os ímpios? Aos que nos feriram ou magoaram? Testemunhas falsas? Aos mentirosos? Precisamos corrigir o foco, olhar para Cristo em Seu santuário, e desfrutar a paz que resulta de saber que todas as coisas, ainda que as evidências pareçam indicar o contrário, estão sob Seu controle, e que Ele dará a palavra final a tudo que acontece no mundo em geral e na vida de Seus servos em particular.

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