“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que
apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é
o vosso culto racional” (Rm 12:1).
O conceito de sacrifício é fundamental em todo o evangelho.
Nas línguas bíblicas, as palavras para “sacrifício” frequentemente retratam a
ideia de aproximar-se, e de trazer algo a Deus. O significado básico do
hebraico para oferta ou sacrifício descreve o ato de se aproximar, o ato
de trazer algo à presença de
Deus. O equivalente grego significa “dádiva” e descreve a apresentação
de um sacrifício.
Da mesma forma, a palavra oferta vem do latim offerre,
a apresentação de uma dádiva. A palavra sacrifício é uma combinação do latim
sacer (sagrado) e facere (fazer), e refere-se ao ato de tornar algo
sagrado.
Certamente, e acima de tudo, Deus proveu o principal
sacrifício, de Si mesmo, na pessoa de Jesus Cristo.
O primeiro sacrifício
1. Qual foi a resposta de Deus a Adão e Eva depois que eles
pecaram? Gn 3:9-21
Adão e Eva viviam em um mundo perfeito, em um jardim
semelhante a um santuário, e o Criador mantinha comunhão face a face com eles.
O primeiro pecado deles abriu um abismo quase intransponível em seu
relacionamento com Deus. No entanto, Deus já havia planejado uma forma de
superar essa quebra de confiança e, antes mesmo de qualquer julgamento contra
eles, o Senhor lhes deu a esperança de um Salvador (Gn 3:15).
“Adão e Eva se achavam como criminosos diante de seu Deus,
aguardando a sentença, que a transgressão havia atraído sobre eles. Antes,
porém, de ouvirem falar nos cardos e espinhos, na dor e na angústia que lhes
caberia em quinhão, e do pó a que deveriam voltar, escutaram palavras que lhes
deviam inspirar esperança. Se bem que devessem sofrer [...], poderiam aguardar
no futuro a vitória final” (Ellen G. White, Para Conhecê-Lo [MM 1965], p. 16).
O Senhor lhes mostrou o fundamento principal dessa vitória
quando, imediatamente depois do pronunciamento de Seu julgamento, Ele fez para
eles vestes de pele para cobrir sua nudez e vergonha. Embora não declarado,
pode ser razoável supor que um animal inocente teve que morrer por isso, e
talvez até mesmo que esse ato tenha sido entendido como uma espécie de
sacrifício (Gn 3:21).
A provisão divina de vestes para os culpados se tornou um
ato simbólico. Assim como os sacrifícios no santuário do deserto garantiam o
relacionamento especial entre Deus e Seu povo, as vestes no Jardim asseguraram
aos culpados a imutável boa vontade de Deus para com eles.
Portanto, desde os primeiros dias da história humana, os
sacrifícios ensinaram que os seres humanos pecadores poderiam encontrar união
com Deus, mas apenas mediante a morte de Jesus, prefigurada nesses sacrifícios.
Releia Génesis 3:9-21. Mesmo antes de Deus proferir o juízo
contra o casal culpado, Ele lhes deu a promessa da “vitória final”. O que isso
diz sobre a atitude de Deus para conosco, mesmo em nossa condição de pecado?
Tipos de ofertas
Nos tempos do Antigo Testamento, os fiéis podiam trazer
ofertas em diferentes ocasiões e em diversas circunstâncias pessoais. As
diferentes ofertas que eles eram autorizados a “apresentar” incluíam animais limpos,
cereais, bebidas e outras coisas. O sacrifício de animais é o elemento mais
antigo no serviço do santuário e, com o ministério sacerdotal, está no centro
do culto israelita. Vida religiosa sem sacrifícios era inconcebível.
2. Quais tipos de ofertas são descritas nos textos a seguir?
Êx 12:21-27; Lv 2:1-3; Êx 25:2-7; Lv 4:27-31
Deus estabeleceu o sistema de sacrifícios para que os fieis
pudessem entrar em íntimo relacionamento com Ele. Por isso, as ofertas poderiam
ser trazidas em diferentes situações: ação de graças, expressão de alegria e
celebração, dádiva, pedido de perdão, apelo penitencial, como símbolo de
dedicação, ou para restituição.
Entre os mais importantes tipos de ofertas estavam o
holocausto (Lv 1) e as ofertas de cereais (ofertas de manjares; Lv 2), bem como
os sacrifícios pacíficos (ofertas de comunhão; Lv 3), ofertas de purificação
(Lv 4), e a oferta de reparação (pela transgressão ou pela culpa; Lv 5:14–6:7).
As três primeiras eram ofertas voluntárias, que deviam lembrar ao doador (e a
nós) que, no fim, tudo o que somos e temos pertence a Deus. O holocausto simboliza
a dedicação total de quem faz a oferta. A oferta de cereais simboliza a
dedicação de nossos bens materiais a Deus, sejam eles alimentos, animais, ou
qualquer outra coisa. Os sacrifícios pacíficos eram a única oferta da qual o
participante recebia uma parte para consumo pessoal.
Os outros dois sacrifícios eram obrigatórios. Relembravam às
pessoas que, embora as transgressões tenham consequências, elas podem ser
“curadas”. A oferta de purificação, muitas vezes chamada de “oferta pelo
pecado”, era oferecida após a contaminação ritual ou depois que uma pessoa se
tornava consciente de uma contaminação moral pelo pecado.
A ampla função das ofertas mostra que cada aspecto de nossa
vida deve estar sob o controle de Deus. Como você pode entregar completamente a
Ele o que você tem e o que você é? O que acontece quando você não faz isso?
Sacrifício no Monte
Moriá
3. Leia Génesis 22:1-19. O que Abraão aprendeu sobre
sacrifício?
Qual foi o propósito de Deus nesse incrível desafio à fé do
patriarca? A vida de Abraão com Deus sempre foi acompanhada pelas promessas
divinas: a promessa da terra, descendentes e bênçãos; a promessa de um filho e
de que Deus cuidaria de Ismael. Abraão sacrificava, mas sempre à luz de alguma promessa.
No entanto, na situação descrita em Génesis 22, Abraão não recebeu nenhuma
promessa divina. Em vez disso, ele foi instruído a sacrificar a promessa viva,
seu filho. Prosseguindo conforme a ordem de Deus, Abraão mostrou que o Senhor
era mais importante para ele do que qualquer outra coisa.
“Foi para impressionar Abraão com a realidade do evangelho,
bem como para lhe provar a fé, que Deus o mandou matar seu filho. A angústia
que ele sofreu durante os dias tenebrosos daquela terrível prova foi permitida
para que ele compreendesse por sua própria experiência algo da grandeza do
sacrifício feito pelo infinito Deus para a redenção do homem. Nenhuma outra
prova poderia ter causado a Abraão tal tortura de alma, como fez a oferta de
seu filho. Deus deu Seu Filho a uma morte de angústia e ignomínia” (Ellen G.
White, Patriarcas e Profetas, p. 154).
Quanto ao sacrifício, Abraão compreendeu dois princípios
essenciais. Primeiro, ninguém, senão o próprio Deus pode oferecer o verdadeiro
sacrifício e o meio de salvação. Certamente o Senhor proverá. Abraão eternizou
esse princípio ao chamar o lugar de “YHWH Jireh” [Jeová Jiré], que significa “O
Senhor Proverá”. Segundo, o sacrifício real é de substituição, que salva a vida
de Isaque. O carneiro foi oferecido “em lugar de” Isaque (Gn 22:13). Esse
animal, que Deus proveu, prefigurou o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, sobre
quem “o Senhor fez cair [...] a iniquidade de nós todos” (Is 53:6, 7; At 8:32).
Que impressionante entrega a Deus! Podemos imaginar como
deve ter sido essa experiência para Abraão? Pense sobre a última vez que você
teve de avançar pela fé pura e fazer algo que lhe causou muita angústia. O que
você aprendeu com suas ações?
Vida por vida
4. Leia Levítico 17:10, 11. Que função Deus deu ao sangue?
Numa passagem em que Deus instruiu os israelitas a não comer
sangue, Ele proveu uma razão interessante para essa proibição: o sangue
representa a vida, e Deus tornou o sangue sacrifical um resgate pela vida
humana. Uma vida, representada pelo sangue, resgata outra vida. O princípio de
substituição, que se tornou explícito no Monte Moriá, quando Abraão ofereceu o
sangue do carneiro em lugar do sangue de seu filho, está firmemente ancorado
nos requisitos legais de Deus para o antigo Israel.
Como em Génesis 22, Deus mostra que Ele mesmo provê o meio
para a expiação. Em hebraico, há uma ênfase na palavra “Eu”, na expressão “Eu o
dei a vocês” (Lv 17:11, NVI). Não podemos prover nosso próprio resgate. Deus
deve concedê-lo.
O conceito é diferente do de outras religiões que utilizam
sacrifícios. Na Bíblia, não é o ser humano que se aproxima de Deus na tentativa
de acalmá-Lo, mas é Deus que oferece o meio para que a pessoa entre em Sua
santa presença. Em Cristo, o próprio Deus oferece o sangue para o resgate.
5. Leia 1 Samuel 15:22 e Miqueias 6:6-8. Quais são alguns
dos perigos do sistema de sacrifícios?
Deus nunca pretendeu que o sistema de sacrifícios fosse um
substituto para a atitude do coração. Ao contrário, os sacrifícios deviam abrir
o coração do fiel para o Senhor. Se perdermos de vista o fato de que os
sacrifícios expressam um relacionamento espiritual entre Deus e as pessoas, e
que todos eles apontam para um sacrifício muito maior, Jesus Cristo, podemos
facilmente confundir o ritual de sacrifícios com um aparelho automático para
fazer expiação. Além do sacrifício, Deus deseja realmente que nosso coração
esteja em paz com Ele (Sl 51:16, 17). Constantemente, os profetas de Israel
acusaram o povo de falsa piedade e o exortaram a “[praticar] a justiça, e
[amar] a misericórdia, e [andar] humildemente com o [seu] Deus” (Mq 6:6-8;
Compare com Is 1:10-17).
De que forma enfrentamos o mesmo perigo apresentado acima?
Por que é tão difícil perceber que podemos estar fazendo a mesma coisa que os
antigos israelitas fizeram? Como podemos evitar esse erro?
Sacrifícios hoje: o
sacrifício vivo
Embora após a morte sacrifical de Cristo não mais houvesse
necessidade de sacrifícios de animais, o Novo Testamento fala sobre a
necessidade de outro tipo de sacrifício.
6. Quais tipos de ofertas devemos apresentar a Deus hoje? Rm
12:1, 2; Fp 4:18; Hb 13:15, 16; 1Pe 2:5
A terminologia do sistema de sacrifícios funcionou muito bem
ao descrever o conceito cristão primitivo do que significava ter uma vida
totalmente consagrada a Deus. Na verdade, mesmo quando Paulo estava pensando em
seu martírio, ele descreveu a si mesmo como uma libação (oferta de bebida; Fp
2:17; 2Tm 4:6).
7. Que mensagem específica encontramos em Romanos 12:1? De
que forma devemos manifestar essa verdade em nossa vida?
“Sacrifício vivo” significa que toda a pessoa é consagrada a
Deus. Inclui a dedicação do corpo (Rm 12:1), bem como a transformação do ser
interior (v. 2). Devemos ser separados (“santos”) para o propósito único de
servir ao Senhor. Os cristãos se apresentarão inteiramente ao Senhor por causa
das “misericórdias de Deus”, descritas em Romanos 12:1-11, que apresentam
Cristo como nosso sacrifício, o meio da nossa salvação.
Nesse contexto, o apelo de Paulo é que os cristãos imitem
Cristo. A verdadeira compreensão da graça de Deus leva a uma vida consagrada a
Ele e ao serviço de amor pelos outros. Submeter o próprio eu e os desejos
pessoais à vontade de Deus é a única resposta razoável ao supremo sacrifício de
Cristo por nós.
No fim, deve haver harmonia entre nossa compreensão da
verdade espiritual e doutrinária e nosso serviço aos outros. Cada aspecto da
vida deve expressar o genuíno compromisso do cristão com Deus. A verdadeira
adoração nunca é apenas interior e espiritual, mas deve abranger atos
exteriores de serviço altruísta. Afinal de contas, pense no que o Senhor fez por
nós.
Estudo adicional
“Tinha sido difícil, mesmo para os anjos, apreender o
mistério da redenção, isto é, compreender que o Comandante do Céu, o Filho de
Deus, devia morrer pelo homem culpado. Quando foi dada a Abraão a ordem para
oferecer seu filho, isso atraiu o interesse de todos os entes celestiais. Com
ânsia intensa, observavam cada passo no cumprimento daquela ordem. Quando à
pergunta de Isaque: “Onde está o cordeiro para o holocausto?”, Abraão respondeu:
“Deus proverá para Si o cordeiro” (Gn 22:7, 8, RC), e quando a mão do pai foi
detida estando a ponto de matar seu filho, e foi oferecido o cordeiro que Deus
provera em lugar de Isaque, derramou-se então luz sobre o mistério da redenção,
e mesmo os anjos compreenderam mais claramente a maravilhosa provisão que Deus
havia feito para a salvação do homem” (1Pe 1:12; Ellen G. White, Patriarcas e
Profetas, p. 155).
Perguntas para
reflexão
1. “Nossos pés andarão em Seus caminhos, nossos lábios
falarão a verdade e espalharão o evangelho, nossa língua trará cura, nossas
mãos levantarão os que caíram, e realizarão muitas tarefas comuns, como
cozinhar, limpar, digitar e costurar. Nossos braços abraçarão os solitários e
necessitados de amor, nossos ouvidos ouvirão o clamor dos aflitos, e os nossos
olhos olharão com humildade e paciência para Deus” (John Stott, Romans
[Romanos]; Downers Grove, Illinois; InterVarsity, 1994, p. 322). De que forma
essa citação mostra o significado de ser um “sacrifício vivo”? Por que somente
morrendo para o próprio eu podemos ser capazes de viver assim?
2. Um dos grandes problemas que o povo enfrentou foi
considerar o sistema de sacrifícios como fim em si mesmo, e não como meio para
alcançar uma vida consagrada a Deus, manifesta no serviço de amor aos outros.
De que forma nós, adventistas do sétimo dia (que recebemos tanta luz), estamos
em perigo de seguir pelo mesmo caminho, talvez ao pensarmos que as grandes
verdades que possuímos sejam um fim em si mesmas, e não um meio para um fim?
3. Pense mais sobre a história de Abraão e Isaque no Monte
Moriá. Por mais inquietante que seja essa história, pode-se argumentar que ela
foi planeada para inquietar e causar consternação e angústia. Por que alguém
diria que essa história foi planeada, entre outras coisas, para evocar essas
emoções no leitor?
Respostas sugestivas:
1. Nas vestes de peles, Deus mostrou o perdão dos pecados. 2. Cordeiro pascal;
oferta de manjares; ofertas voluntárias; sacrifício pelo pecado. 3. Sacrifícios
humanos não podem resolver o problema do pecado; somente Deus pode oferecer o
verdadeiro sacrifício salvífico; o cordeiro substituiu Isaque; Jesus nos
substituiu na cruz. 4. O sangue representava vida e simbolizava a remissão dos
pecados. 5. Separados da justiça, obediência e humildade, os sacrifícios não
têm valor. 6. Consagração do nosso corpo, nossa mente e os recursos a Deus e ao
próximo; sacrifícios de louvor e gratidão. 7. Ao contrário dos animais mortos,
nosso sacrifício é nossa vida santa e agradável a Deus. Por isso, é preciso
consagrar tudo que temos: corpo, mente e espírito.
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