Texto especial
"Ouvi do altar que se dizia: Certamente, ó Senhor Deus,
todo-poderoso, verdadeiros e justos são os Teus juízos" (Ap 16:7).
Os adventistas do sétimo dia compreendem a realidade por
meio do conceito bíblico do "grande conflito entre Cristo e Satanás".
Para usar uma expressão da filosofia, é a "metanarrativa", a grande e
abrangente história, que ajuda a explicar nosso mundo e as coisas que acontecem
nele.
Muito importante nesse conflito é o santuário, que, como
vimos, apresenta um tema recorrente que vai do começo ao fim da história da
salvação: a redenção da humanidade mediante a morte de Jesus. Adequadamente
compreendida, a mensagem do santuário também ajuda a ilustrar o caráter de
Deus, que Satanás tem atacado desde o início do grande conflito no Céu.
Nesta semana, estudaremos alguns fatos importantes no grande
conflito entre Cristo e Satanás, que revelam a verdade sobre o caráter de Deus
e expõem as mentiras de Satanás.
Revolta no santuário
celestial
1. Leia Ezequiel 28:12-17 e Isaías 14:12-15. O que esses versos
ensinam sobre a queda de Lúcifer?
À primeira vista, Ezequiel 28:11, 12 parece estar falando
apenas sobre um monarca terrestre. Vários aspectos, no entanto, sugerem que o
texto realmente se refere a Satanás.
Para começar, esse ser é mencionado como o querubim da
guarda ungido (ou "querubim ungido que cobre", Ez 28:14, Tradução
Brasileira), o que relembra o lugar santíssimo do santuário terrestre, onde
dois querubins cobriam a arca e a presença do Senhor (Êx 37:7-9). Esse ser
celestial também andava "no meio das pedras afogueadas", isto é, no
"monte santo de Deus" (Ez 28:14, RC) e no centro do "Éden,
jardim de Deus" (Ez 28:13), ambas sendo expressões das figuras do
santuário. A cobertura de pedras preciosas, descrita no verso 13, contém nove
pedras que também são encontradas no peitoral do sumo sacerdote (Êx 39:10–13).
Portanto, nesse ponto também temos mais referências ao santuário.
Depois de descrever o incomparável esplendor do querubim, o texto
passa a falar de sua queda moral. Sua glória "subiu para a cabeça".
Sua beleza tornou orgulhoso seu coração, seu esplendor corrompeu sua
sabedoria e seu "comércio", que provavelmente se refira à sua difamação do caráter de Deus e incitação da rebelião, o tornaram violento.
sabedoria e seu "comércio", que provavelmente se refira à sua difamação do caráter de Deus e incitação da rebelião, o tornaram violento.
Da mesma forma, poderes terrestres arrogantes procuram se
mover da Terra para o Céu. Em Isaías 14:12-15, o "filho da alva" (em
latim lucifere, de onde vem o nome Lúcifer) vai numa direção diferente: ele cai
do Céu para a Terra, indicando sua origem sobrenatural, não terrena. Outras
expressões como "acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono",
"monte da congregação", "nas extremidades do Norte", e
"Altíssimo" reforçam a impressão de que esse é um ser celestial.
Embora os versos 12 e 13 estejam no passado, o verso 15 de repente muda para o
futuro. Essa mudança do tempo verbal indica que houve primeiramente uma queda,
do Céu para a Terra (Is 14:12), e que haverá uma segunda queda, da Terra ao
Sheol (a sepultura), em algum momento no futuro (Is 14:15). Isso não se refere
a nenhum rei de Babilónia, mas, em vez disso, é uma clara referência a Lúcifer.
Um ser perfeito, criado por um Deus perfeito caiu em pecado?
O que isso nos diz sobre a realidade da liberdade moral no Universo de Deus? E
o que essa liberdade revela sobre o caráter de Deus?
As acusações
Depois de cair do Céu, Satanás tentou distorcer e difamar o
caráter de Deus. Ele fez isso no Éden (Gn 3:1-5), no meio do primeiro
"santuário" na Terra. Satanás trouxe sua rebelião, que se originou no
santuário celestial, para o santuário terrestre do Éden. Depois de iniciar o
contato com Eva por meio da serpente, ele plantou na mente dela a ideia de que
Deus os estava privando de algo que seria bom para eles, que Ele estava retendo
alguma coisa que eles deviam ter. Dessa forma, sutilmente, o inimigo estava
deturpando o caráter de Deus.
A queda de Adão e Eva colocou Satanás temporariamente no
trono do mundo. Vários textos sugerem que Satanás havia obtido acesso à corte
celestial novamente, porém como "príncipe deste mundo" (Jo 12:31,
RC), como aquele que mantém a Terra sob controle, mas não é seu proprietário,
de modo muito similar à ação de um ladrão.
2. Leia Jó 1:6-12 e Zacarias 3:1-5. Como o grande conflito é
revelado nesses textos?
Esses textos nos dão um vislumbre do aspecto celestial do
grande conflito. Satanás apresenta a retidão de Jó simplesmente como interesse
próprio: se eu sou bom, Deus me abençoará. A implicação é que Jó não servia a
Deus porque Ele é digno, mas porque tiraria vantagens disso. De acordo com
Satanás, se fosse demonstrado que servir a Deus não traria bênção, Jó
abandonaria sua fé.
No caso do sumo sacerdote Josué (note o tema do santuário) e
de outros cristãos (veja Ap 12:10), Ellen G. White diz que Satanás está
acusando "os filhos de Deus e faz seu caso parecer tão desesperador quanto
possível. Ele expõe ao Senhor seus pecados e faltas" (Parábolas de Jesus,
p. 167).
Em ambos os casos, porém, a verdadeira questão é a justiça
de Deus. A questão por trás de todas as acusações é: Deus é justo e reto em
Seus procedimentos? O caráter de Deus está em julgamento. Deus é justo quando
salva os pecadores? Deus é reto quando declara justo o injusto? Se Ele é justo,
deve punir os injustos; mas se é misericordioso, deve perdoá-los. Como Deus
pode ser as duas coisas?
Se Deus fosse apenas um Deus de justiça, qual seria o seu destino?
Por quê?
Vindicação na cruz
Desde o princípio, Deus não deixou dúvida de que iria
invalidar as acusações de Satanás e demonstrar Seu
supremo amor e justiça. Sua justiça exige que haja pagamento da penalidade pelo pecado da humanidade. Seu amor procura restaurar a humanidade à comunhão com Ele. Como Deus poderia manifestar as duas coisas?
supremo amor e justiça. Sua justiça exige que haja pagamento da penalidade pelo pecado da humanidade. Seu amor procura restaurar a humanidade à comunhão com Ele. Como Deus poderia manifestar as duas coisas?
3. Como Deus demonstrou
tanto Seu amor quanto Sua justiça? 1Jo 4:10; Rm 3:21-26
O caráter de amor e justiça de Deus foi revelado em sua mais
plena manifestação na morte de Cristo. Deus nos amou e enviou Seu Filho como
sacrifício expiatório pelos nossos pecados (1Jo 4:10; Jo 3:16). Ao pagar em Si
mesmo a penalidade pela transgressão da lei, Deus mostrou Sua justiça: as
exigências da lei tinham que ser cumpridas, e isso ocorreu na cruz, mas na
pessoa de Jesus.
Ao mesmo tempo, por esse ato de justiça, Deus também pôde
revelar Sua graça e amor, porque a morte de Jesus foi substitutiva. Ele morreu
por nós, em nosso lugar, para que não tenhamos que enfrentar a morte eterna.
Esta é a incrível provisão do evangelho: que Deus suportaria em Si mesmo o
castigo que Sua justiça exigia, o castigo que legitimamente pertencia a nós.
Romanos 3:21-26 é uma joia bíblica sobre o tema da justiça
de Deus e da redenção em Jesus Cristo. A morte sacrifical de Cristo é uma
demonstração da justiça de Deus "para Ele mesmo ser justo e o justificador
daquele que tem fé em Jesus" (Rm 3:26).
Mais uma vez, imagens do santuário proveem a moldura para a
morte de Cristo. Nas semanas anteriores, vimos que Sua morte foi um sacrifício
perfeito e substitutivo e que Cristo é a "propiciação" [ou
propiciatório] (Rm 3:25). Em resumo, o Antigo e o Novo Testamentos revelam que
a missão de Cristo foi tipificada pelo serviço do santuário terrestre.
"Com intenso interesse, os mundos não caídos observavam
para ver Jeová Se levantar e assolar os habitantes da Terra. [...] Em lugar de
destruir o mundo, porém, Deus enviou Seu Filho para o salvar. [...] Justo no
momento da crise, quando Satanás parecia prestes a triunfar, veio o Filho de
Deus com a embaixada da graça divina" (Ellen G. White, O Desejado de Todas
as Nações, p. 37). O que essa citação fala sobre o caráter de Deus?
Vindicação no juízo
Como as Escrituras mostram, o juízo de Deus é uma boa
notícia para os que acreditam nEle, que confiam nEle e que são leais a Ele,
mesmo que não possamos "contestar as acusações de Satanás contra nós"
(Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 5, p. 472). No entanto, o
julgamento não é apenas para nós. Ele também serve ao propósito de vindicar a
Deus perante todo o Universo.
4. Como o caráter de Deus é apresentado nos seguintes textos sobre o
juízo? Sl 96:10, 13; 2Tm 4:8; Ap 16:5, 7; 19:2
O caráter de Deus será revelado em Seu julgamento. No fim, o
que Abraão já havia compreendido será manifestado a toda a humanidade:
"Não fará justiça o Juiz de toda a Terra?" (Gn 18:25). As diferentes
fases do juízo, com suas investigações do livro aberto, garantem que os anjos
(no juízo pré-advento) e os justos (no juízo durante o milênio) podem comprovar
e ter certeza de que Deus é justo em Sua maneira de lidar com a humanidade e
que Ele tem sido misericordioso em cada caso.
5. Leia Filipenses 2:5-11. Que evento é descrito nesses versos?
Os versos 9-11 preveem a exaltação de Cristo. As duas
principais ações expressam o mesmo pensamento: Jesus é Senhor, e toda a criação
O reconhecerá como tal. Primeiro, todo joelho se dobrará (v. 10). O ato de
dobrar os joelhos é uma ação habitual para reconhecer a autoridade de alguém.
Aqui a expressão se refere à homenagem prestada a Cristo, reconhecendo Sua
soberania suprema. A dimensão da homenagem é Universal. "Nos Céus, na
Terra e debaixo da Terra", o que inclui todos os seres vivos: os seres
sobrenaturais no Céu, os seres vivos na Terra e os mortos ressuscitados.
Aparentemente, os que prestarão homenagem não são apenas os salvos. Todos
reconhecerão o senhorio de Cristo, mesmo os perdidos.
A segunda ação é que todos devem confessar "que Jesus
Cristo é Senhor" (v. 11). No fim, todos reconhecerão a justiça de Deus em
exaltar Cristo como Senhor. Dessa forma, toda a criação reconhecerá o caráter
de Deus, que tem estado no centro do grande conflito, como sendo justo e fiel.
Mesmo Satanás, o arqui-inimigo de Cristo, reconhecerá a justiça de Deus e se
curvará à supremacia de Cristo (leia de Ellen G. White, O Grande Conflito, p.
670, 671).
O espetáculo cósmico
Durante o Sermão da Montanha, Jesus proferiu estas palavras
surpreendentes: "Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para
que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos
Céus" (Mt 5:16). Com isso, Ele revelou um princípio que, embora seja
facilmente mal-interpretado, ainda assim é visto em toda a Bíblia: o princípio
de que, sendo seguidores de Cristo, podemos trazer glória ou vergonha a Deus
pelas nossas ações.
6. Leia Ezequiel 36:23-27. Como Deus vindicaria Seu nome no antigo
Israel?
Esses versos contêm uma das passagens clássicas sobre a nova
aliança. Deus deseja operar uma impressionante transformação entre Seu povo.
Ele vai purificá-lo (v. 25) e conceder-lhe novo coração e novo espírito (v.
26), de modo que ele se torne um povo santo e siga Seus mandamentos. O que o
Senhor deseja realizar é justificar e santificar os fiéis, e, por sua vida,
eles honrarão a Deus pelo que Ele é e faz (v. 23).
O elemento-chave na vindicação do caráter do Senhor perante
o Universo é a cruz. "Satanás viu que estava desmascarado. Sua
administração foi exposta perante os anjos não caídos e o Universo celestial.
Revelara-se um homicida. Derramando o sangue do Filho de Deus, desarraigou-se
Satanás das simpatias dos seres celestiais" (Ellen G. White, O Desejado de
Todas as Nações, p. 761).
Ao mesmo tempo, os seguidores de Cristo do Novo Testamento
são chamados de "espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens"
(1Co 4:9). Isto é, o que fazemos está sendo visto não apenas por outras
pessoas, mas também por seres celestiais. Que tipo de testemunho apresentamos?
Por nossa vida, podemos dar a conhecer "a multiforme sabedoria de
Deus" diante "dos principados e potestades nos lugares
celestiais" (Ef 3:10). Ou nossa vida pode trazer vergonha e desonra ao
nome do Senhor a quem professamos servir.
Que tipo de espetáculo sua vida apresenta para outras
pessoas e aos anjos? Por meio dele, Deus é glorificado, ou Satanás pode
exultar, considerando que você professa seguir a Jesus?
Pensamento de Ellen
G. White, Patriarcas e Profetas, p. 33-43: "Por que Foi Permitido o
Pecado?"; Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 737-746: "O Caráter de
Deus Revelado em Cristo".
"Havia no mundo Alguém que foi perfeito Representante
do Pai, Alguém cujo caráter e prática refutavam as falsas representações que
Satanás fazia de Deus. Satanás atribuiu a Deus as qualidades por ele mesmo
possuídas. Em Cristo, ele via Deus revelado em Seu verdadeiro caráter – Pai
compassivo e misericordioso, não querendo que ninguém se perca, mas que todos
se cheguem a Ele, arrependidos, e tenham vida eterna" (Ellen G. White,
Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 254).
"A missão de Cristo, compreendida tão vagamente, e tão
debilmente assimilada, e que O chamou do trono de Deus para o mistério do altar
da cruz do Calvário, se desdobrará mais e mais à mente, e se verá que, no
sacrifício de Cristo se encontra a fonte e princípio de todas as outras missões
de amor" (Ellen G. White, Nos Lugares Celestiais [MM 1968], p. 319).
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