Verso Principal:
"Quem, ó Deus, é semelhante a Ti, que perdoas a
iniquidade e Te esqueces da transgressão do restante da Tua herança? O Senhor
não retém a Sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a
ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os
nossos pecados nas profundezas do mar" (Mq 7:18, 19).
O Dia da Expiação, ou Yom Kippur, conforme revelado em
Levítico 16, é o ritual mais solene do Antigo Testamento. Ele foi
intencionalmente colocado no centro do livro de Levítico, que está no centro
dos cinco livros de Moisés, para ilustrar o "santíssimo" caráter
desse ritual. Mencionado também como o sábado dos sábados (Lv 16:31,
International Standard Version), o dia requeria a cessação de todo trabalho, o
que é único para um festival israelita anual. Esse fato coloca esse dia
justamente dentro do conceito do sábado, um tempo para descansar no que Deus,
como Criador e Redentor, fez (e fará) por nós.
A purificação anual
1. Leia Levítico 16:16, 30. O que era purificado no Dia da
Expiação?
Ao longo do ano, todos os tipos de pecados e impurezas
rituais eram transferidos para o santuário. O Dia da Expiação era o tempo para
sua remoção. Havia três partes principais no Dia da Expiação:
1.1. A oferta da purificação pelo sacerdote. O sumo
sacerdote sacrificava um novilho por seus pecados, certificando-se de que ele
(o sacerdote) estaria puro ao entrar no santuário e realizar o ritual para
purificá-lo.
1.2. A oferta de purificação do bode "para o
Senhor" (Lv 16:8). Durante o ano, as ofertas de purificação levavam todos
os pecados dos israelitas para o santuário. O Dia da Expiação era o momento de
remover esses pecados do santuário. Esse processo era feito mediante o sangue
do bode "para o Senhor".
1.3. O ritual da eliminação com o bode vivo para Azazel.
Deus queria afastar os pecados de Seu povo para longe do santuário e do
acampamento. Portanto, outro bode vivo era enviado ao deserto.
2. Leia Levítico 16:15. O que acontecia com o bode
mencionado nesse texto, e o que ele simbolizava?
Visto que não havia confissão do pecado nem imposição de
mãos envolvidas com o bode para o Senhor, seu sangue não era portador de
pecado. Assim, ele não contaminava, mas, em vez disso, purificava. O efeito é
claramente descrito nos versos 16 e 20. O sumo sacerdote fazia expiação com o
sangue do bode do Senhor, purificando todo o santuário. O mesmo procedimento
também efetuava a purificação do povo para que, quando o santuário fosse
purificado de todos os pecados das pessoas, elas também fossem purificadas.
Nesse sentido, o Dia da Expiação era único, pois somente nesse dia tanto o
santuário quanto o povo eram purificados.
O Dia da Expiação era a segunda etapa de uma expiação em
duas fases. Na primeira fase, durante o ano, os israelitas eram perdoados. Seus
pecados não eram apagados, mas confiados ao próprio Deus, que havia prometido
cuidar deles. A segunda fase não se relacionava tanto com o perdão, porque as
pessoas já estavam perdoadas. Na verdade, o verbo "perdoar" não
ocorre em Levítico 16 nem em Levítico 23:27-32. Isso nos mostra que o plano da
salvação lida com algo mais do que apenas o perdão dos nossos pecados, um ponto
que tem ainda mais sentido quando compreendido no contexto mais amplo do grande
conflito.
Comentário:
Além do perdão
3. Leia Levítico 16:32-34. Qual era a principal tarefa do
sumo sacerdote no Dia da Expiação?
A principal função do sumo sacerdote era a de servir de
mediador entre Deus e a humanidade. Sua tarefa no Dia da Expiação era imensa.
Administrava o sistema do Santuário e realizava diversos rituais de sacrifícios
e ofertas (Hb 8:3). Ele realizava quase todos os rituais, exceto o de levar o
bode para Azazel ao deserto, embora ele desse a ordem para fazer isso.
No Dia da Expiação, o "grande" sacerdote, como ele
também era chamado, se tornava um exemplo vivo de Cristo. Assim como a atenção
do povo de Deus se voltava para o sumo sacerdote, Jesus é o centro exclusivo de
nossa atenção. Como as atividades do sumo sacerdote na Terra traziam
purificação para as pessoas, igualmente a obra de Jesus no santuário celestial
faz o mesmo por nós (Rm 8:34; 1Jo 1:9). Assim como no Dia da Expiação a única
esperança do povo estava no sumo sacerdote, nossa única esperança está em Cristo.
"O sangue de Cristo, embora devesse livrar da
condenação da lei o pecador arrependido, não cancelaria o pecado; este ficaria
registrado no santuário até a expiação final; assim, no cerimonial típico, o
sangue da oferta pelo pecado removia do penitente o pecado, mas este permanecia
no santuário até o dia da expiação" (Ellen G. White, Patriarcas e
Profetas, p. 357).
De acordo com Levítico 16:16-20, o sumo sacerdote entrava no
lugar santíssimo e o purificava das impurezas rituais, transgressões e pecados.
Então, ele transferia todas as iniquidades, transgressões e pecados de Israel
para o bode vivo e os enviava, por meio do bode, para o deserto. Assim, todas
as falhas morais de Israel eram removidas, o que alcançava o único objetivo do
Dia da Expiação: a purificação moral que ia além do perdão. Não era necessário
um novo perdão nesse dia. Deus já havia perdoado seus pecados.
Enquanto lutamos para abandonar os pecados, como podemos
aprender a depender totalmente dos méritos de Cristo como nossa única esperança
de salvação?
Azazel
4. Leia Levítico 16:20-22. O que acontecia com o bode vivo?
O ritual com o bode vivo não era uma oferta. Depois que a
sorte era lançada para decidir qual dos dois bodes seria para o Senhor e qual
seria para Azazel (bode emissário; em inglês, o termo muitas vezes é traduzido
como scapegoat [bode expiatório]), apenas o bode para o Senhor é mencionado
como oferta de purificação (v. 9, 15). Por outro lado, o bode para Azazel é
chamado de "bode vivo". Ele não era morto, provavelmente para evitar
qualquer ideia de que o ritual constituísse um sacrifício. O bode vivo entrava
em ação somente depois que o sumo sacerdote terminava a expiação de todo o
santuário (v. 20). Este ponto deve ser enfatizado: o ritual que se seguia com o
bode vivo não tinha nada a ver com a efetiva purificação do santuário ou do
povo. Eles já tinham sido purificados.
Quem ou o que é Azazel? Os antigos intérpretes judeus
identificavam Azazel como o anjo caído, principal originador do mal e líder dos
anjos maus. Nós o conhecemos como símbolo do próprio Lúcifer.
O ritual com o bode vivo era um rito de eliminação que
realizava a remoção final dos pecados, que seriam colocados sobre o seu
originador e depois retirados do povo para sempre. A "expiação" era
feita sobre ele no sentido punitivo
(Lv 16:10), visto que o bode suportava a responsabilidade
final pelo pecado.
Então Satanás desempenha um papel em nossa salvação, como
alguns falsamente acusam que ensinamos? Claro que não! Satanás nunca, de
nenhuma forma, carrega o pecado por nós como substituto. Só Jesus fez isso, e é
uma blasfémia pensar que Satanás tivesse alguma parte em nossa redenção.
O ritual com o bode vivo encontra paralelo na lei da
testemunha falsa (Dt 19:16-21). O acusador e o acusado se apresentavam diante
do Senhor, representado pelos sacerdotes e juízes. Era realizada uma
investigação e, se fosse comprovado que o acusador era uma testemunha falsa,
ele devia receber a punição que pretendia para o inocente (por exemplo, o
perverso Hamã que levantou uma forca para o leal Mordecai).
Graças a Deus por Seu misericordioso perdão e pelo fato de
que Ele não mais Se lembrará dos nossos pecados (Jr 31:34). Como podemos
aprender a nos esquecermos dos nossos pecados, uma vez que eles estão
perdoados? Por que é tão importante fazer isso?
No Dia da Expiação
"Em tais condições, no ministério do tabernáculo e do
templo que mais tarde tomou seu lugar, ensinava-se ao povo cada dia as grandes
verdades relativas à morte e ministério de Cristo e, uma vez ao ano, sua mente
era transportada para os acontecimentos finais do grande conflito entre Cristo
e Satanás, e para a final purificação do Universo, de pecado e pecadores"
(Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 358).
5. Leia Levítico 16:29-31 e 23:27-32. O que Deus esperava
que os israelitas fizessem no Yom Kippur (Dia da Expiação)? Como esses
princípios se aplicam a nós, que vivemos no antitípico "Dia da
Expiação"?
Se alguém no antigo Israel não seguisse essas instruções,
devia ser eliminado e destruído (Lv 23:29, 30). O Dia da Expiação realmente
significava nada menos do que vida e morte. Ele exigia completa lealdade para
com Deus.
Imagine que alguém tivesse confessado seus pecados durante a
primeira fase da expiação ao longo do ano, ou seja, por meio dos sacrifícios
diários, mas não levasse a sério o Dia da Expiação. Por seu desrespeito ao que
Deus desejava demonstrar nesse dia, essa pessoa teria demonstrado sua
deslealdade para com o Senhor.
Isso significa que uma pessoa que professa fé em Deus ainda
pode perder a salvação. Como adventistas do sétimo dia, não acreditamos na
expressão "uma vez salvo, salvo para sempre", porque a Bíblia não
ensina isso. Estamos seguros em Cristo apenas enquanto vivemos pela fé e nos
entregamos a Ele, clamando por Seu poder para a vitória, quando tentados, e Seu
perdão, quando caímos.
O Yom Kippur de
Isaías
Em Isaías 6:1-6, o profeta viu o Rei celestial sentado em um
"alto e sublime" trono no templo. A visão é uma cena de juízo que
apresenta Deus como vindo para o julgamento (Is 5:16). Isaías viu o verdadeiro
Rei, identificado no Evangelho de João como Jesus Cristo (Jo 12:41).
Embora Isaías fosse profeta de Deus e chamasse as pessoas ao
arrependimento, entendia que, na presença de Deus, ele estava perdido.
Confrontado com a santidade e glória de Deus, Isaías percebeu sua própria
pecaminosidade e também a impureza de seu povo. Santidade e pecado são
incompatíveis. Como Isaías, precisamos chegar à conclusão de que não podemos
passar pelo juízo divino confiando em nós mesmos. Nossa única esperança é ter
um Substituto.
6. Que paralelos para
o Dia da Expiação aparecem em Isaías 6:1-6?
A combinação de um templo cheio de fumaça, um altar,
julgamento e expiação para o pecado e a impureza, lembra claramente o Dia da
Expiação. Isaías experimentou seu próprio "Dia da Expiação", por
assim dizer.
Atuando como sacerdote, um serafim (que literalmente
significa "aquele que arde") tomou uma brasa viva do altar, o que
pressupõe algum tipo de oferta, para remover o pecado do profeta. Essa é uma
imagem apropriada para a purificação do pecado, que é possível mediante o
sacrifício de Jesus e Seu ministério de mediação sacerdotal. Isaías reconheceu
isso como um ritual de purificação e se manteve quieto enquanto a brasa tocava
seus lábios. Assim a sua "iniquidade foi tirada" e seu pecado
perdoado (Is 6:7). A voz passiva no verso 7 mostra que o perdão é concedido por
Aquele que está sentado no trono. O Juiz também é o Salvador.
A divina obra de purificação nos leva do "ai de
mim!" para "eis-me aqui, envia-me a mim". Compreender a obra
celestial no Dia da Expiação leva à disposição para a proclamação, porque um
verdadeiro entendimento conduz à segurança e certeza. A razão disso é sabermos
que, no juízo, temos um Substituto, Jesus Cristo, cuja justiça (simbolizada
pelo sangue) nos permitirá ficar sem medo da condenação (Rm 8:1). Gratidão
motiva a missão. Pecadores absolvidos são os melhores embaixadores de Deus (2Co
5:18-20), porque eles sabem que Deus os libertou.
Estudo adicional
"Ocorre agora o acontecimento prefigurado na última e
solene cerimónia do Dia da Expiação. Quando se completava o ministério no lugar
santíssimo, e os pecados de Israel eram removidos do santuário em virtude do
sangue da oferta pelo pecado, o bode emissário era, então, apresentado vivo
perante o Senhor; e na presença da congregação o sumo sacerdote confessava
sobre ele "todas as iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas
transgressões, segundo todos os seus pecados", pondo-os sobre a cabeça do
bode (Lv 16:21, RC). Semelhantemente, ao completar-se a obra de expiação no
santuário celestial, na presença de Deus e dos anjos do Céu e da multidão dos
remidos, serão então postos sobre Satanás os pecados do povo de Deus. Ele será
declarado culpado de todo o mal que os fez cometer" (Ellen G. White, O
Grande Conflito, p. 658).
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