“Ouve Tu nos Céus,
lugar da Tua habitação, a sua prece e a sua súplica e faze-lhes justiça” (1Rs
8:49).
Pensamento-chave:
Mesmo em meio ao adultério espiritual e ao juízo divino, o amor de Deus por Seu
povo nunca vacila.
“Onde Deus habita?” A pergunta inocente de uma criança de
seis anos pode ser desconcertante. Essa questão pode levar a outras questões
mais difíceis, como: “Se Deus vive em um lugar, como é possível que Ele esteja
em toda parte?”; “Deus precisa de um lugar de habitação?”; Ou “Se Ele não
precisa, por que tem um?”; “Se Ele precisa de um, por que precisa?”
Boas perguntas e, dado o pouco que sabemos (e o muito que
não sabemos), elas não são tão fáceis de responder.
No entanto, podemos responder com o que sabemos. A Bíblia
diz que Deus habita nos Céus, que Ele atua intensamente em nosso favor “lá em
cima” e que o centro de Sua obra está no santuário celestial.
A Bíblia é clara: o santuário celestial é um lugar real e, a
partir dele, podemos aprender verdades sobre o caráter e a obra de Deus. Assim,
o foco da lição desta semana é o santuário celestial e o que Deus está fazendo
ali por nós, porque o que Ele está fazendo no santuário é, de fato, em nosso
favor.
A habitação de Deus
Costumamos dizer que “Deus está em todo lugar”, ou que Ele é
“onipresente”, o que significa que Ele está presente em todo o Universo.
“Acaso, sou Deus apenas de perto [...] e não também de longe? [...] porventura,
não encho Eu os céus e a Terra?” (Jr 23:23, 24). Davi entendia também que
ninguém pode fugir de Deus (Sl 139). Como Paulo argumenta, Deus está perto de
todos, pelo menos no sentido espiritual (At 17:27, 28).
A existência eterna de Deus é complementada pelo atributo da
onipresença. Deus não tem começo nem fim (Sl 90:2). Ele sempre foi e sempre
será (Jd 1:25).
1. Leia 1 Reis 8:49 e Salmo 102:19. Onde Deus habita? O que
isso significa? É possível entender essa questão?
Muitas vezes as Escrituras declaram que a habitação de Deus
está no Céu (1Rs 8:30, 43, 49). Isso significa que Deus está mais presente no
Céu do que em outro lugar? Obviamente, de modo especial, Deus habita no Céu, em
Sua gloriosa presença e santidade. No Céu, é vista a maior manifestação da
presença de Deus.
Há uma diferença, porém, entre a “presença geral” de Deus e
Sua “presença especial”. Deus está geralmente presente em todos os lugares. No
entanto, escolhe Se revelar de modo especial no Céu e, como veremos, no
santuário celestial.
Temos que admitir que somos limitados em nossa compreensão
de Sua natureza física. Ele é espírito (Jo 4:24) e, como tal, não pode ser
contido em nenhuma estrutura ou dimensão (1Rs 8:27). Mesmo assim, a Bíblia
apresenta o Céu (Jo 14:1-3) e o santuário celestial como lugares reais (Hb
8:2), nos quais Ele pode ser visto (At 7:55, 56; Ap 4:2, 3). Temos que concluir
que até mesmo o Céu e o santuário celestial são lugares nos quais Deus
condescende em Se encontrar com Sua criação.
Há muitas coisas difíceis de imaginar ou entender, tais como
a morada de Deus. No entanto, a Bíblia diz que essa morada é real. Como podemos
aprender a confiar em tudo o que a Bíblia nos ensina, mesmo que não entendamos?
Por que é importante confiar, ainda que não compreendamos?
Sala do trono
2. O que a Bíblia ensina sobre Deus e Seu trono? Sl 47:6-9;
93:1, 2; 103:19
Na Bíblia, ocorrem várias visões do trono celestial. A
maioria delas retrata uma espécie de assembleia celestial, tendo Deus como Rei.
Curiosamente, a maior parte delas se relaciona com assuntos humanos, geralmente
apresentando Deus agindo ou falando em favor dos justos.
A Bíblia também revela Deus como soberano. Por exemplo, a
realeza do Senhor é um tema recorrente nos Salmos. Deus não é somente Rei no
Céu, mas também “Rei de toda a Terra” (Sl 47:7), e não apenas no futuro, mas
aqui e agora (Sl 93:2).
O fato de que o trono de Deus esteja no Céu tem vários
desdobramentos. Um deles é que Ele é independente e superior ao Universo.
3. Quais são as características do caráter e do governo de
Deus? Sl 89:14; 97:2
O governo de Deus abrange retidão e justiça, bem como amor e
verdade. Essas qualidades morais descrevem Sua maneira de agir no mundo e
ressaltam Sua posição em todo o Universo. Deus deseja que essas qualidades, que
compõem Seu governo, se manifestem na vida de Seu povo (Mq 6:8; Is 59:14). É
nosso sagrado privilégio fazer isso.
“Assim como, em obediência às leis naturais, a Terra deve
produzir seus tesouros, da mesma forma, em obediência à Sua lei moral o coração
do povo deveria refletir os atributos de Seu caráter” (Ellen G. White, O Lar
Adventista, p. 144).
Cristo, sendo Deus, assumiu nossa humanidade e morreu como
nosso Substituto, isto é, todos os erros que cometemos e pelos quais deveríamos
ser punidos, caíram sobre Ele. O que significa essa verdade? Por que ela deve
motivar tudo o que fazemos?
Adoração no Céu
4. Leia Apocalipse 4 e 5. O que esses dois capítulos nos
ensinam sobre a morada celestial de Deus? De que maneira o plano da salvação é
revelado nesses textos?
A visão da sala do trono celestial é uma visão do santuário
celestial. Isso se torna evidente a partir da linguagem relacionada ao sistema
religioso hebraico. Por exemplo, as palavras traduzidas como porta e trombeta
em Apocalipse 4:1 aparecem muitas vezes na Septuaginta (antiga tradução grega
do Antigo Testamento), em referência ao santuário. As três pedras preciosas em
Apocalipse 4:3 fazem parte do peitoral do sumo sacerdote. Os sete candeeiros
lembram os castiçais do templo de Salomão. Os vinte e quatro anciãos lembram as
24 divisões de serviço para os sacerdotes do templo durante o ano e sua oferta
de oração nas taças de ouro cheias de “incenso” (Sl 141:2). Todos esses versos
apontam para o serviço de adoração do Antigo Testamento, centralizado no
santuário terrestre.
Finalmente, o Cordeiro morto de Apocalipse 5 aponta para a
morte sacrifical de Jesus. Cristo, o Cordeiro, é o único mediador da salvação
divina e é considerado digno por causa de Seu triunfo (Ap 5:5), Seu sacrifício
(Ap 5:9, 12), e Sua divindade (Ap 5:13).
“Cristo tomou sobre Si a natureza humana e depôs Sua vida
como sacrifício, para que o homem, tornando-se participante da natureza divina,
pudesse ter vida eterna” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 141).
Nesses dois capítulos, centralizados no trono de Deus, vemos
uma representação da obra de Deus para a salvação da humanidade. Podemos ver,
também, que essa obra foi revelada diante dos outros seres inteligentes do Céu,
um tema-chave no assunto do grande conflito.
Sala do tribunal
5. Leia o Salmo 11:4-7 e Habacuque 2:20. O que mais Deus faz
em Seu templo celestial? Por que é importante saber a respeito disso?
Muitos salmos revelam que o Senhor não é indiferente às necessidades
dos justos nem às injustiças que eles enfrentam. Ele reage às questões que
clamam por reparação, e “[justificará] ao justo e [condenará] ao culpado” (Dt
25:1), à semelhança do que faz todo bom juiz.
Quando Deus julga, a sala do trono se torna uma sala de
julgamento, e o trono celestial, um tribunal. Aquele que está entronizado é o
juiz (Sl 9:4-8), um conceito conhecido no antigo Oriente Médio, onde os reis
muitas vezes atuavam como juízes.
O juízo divino envolve tanto ímpios quanto justos. Enquanto
os ímpios receberão punição semelhante à de Sodoma e Gomorra, “os retos Lhe
contemplarão a face” (Sl 11:6, 7). A combinação clássica da sala do trono e o
juízo aparece em Daniel 7:9-14 (uma passagem significativa que estudaremos
posteriormente). Mais uma vez, o juízo consiste em duas vertentes: veredito de
justificação dos santos e sentença de condenação para os inimigos de Deus.
Depois que Habacuque perguntou a Deus por que Ele estava em
silêncio a respeito da injustiça (Hc 1), Ele respondeu que certamente julgará
(Hc 2:1-5). Enquanto os ídolos não têm “fôlego” nem “espírito” (Hc 2:19), o
Deus criador está entronizado em Seu templo, o santuário celestial, e está
pronto para julgar.
O apelo profético é:
“Cale-se diante d´Ele toda a Terra” (Hc 2:20). A atitude adequada para com o
governo e julgamento de Deus é reverência e silêncio respeitoso.
O lugar em que Deus revela Sua presença especial e recebe a
adoração dos seres celestiais é o mesmo lugar em que Ele realiza julgamento
justo para com todos os seres humanos: o santuário no Céu. Deus é justo, e
todas as nossas perguntas sobre justiça serão respondidas no tempo dEle, não no
nosso.
Lugar de salvação
6. Leia Hebreus 8:1, 2. O que Cristo está fazendo junto ao
trono de Deus?
O livro de Hebreus ensina que Cristo está ministrando no
santuário celestial como nosso Sumo Sacerdote. Ali, Sua obra está focalizada em
nossa salvação, porque Ele “[comparece], agora, por nós, na presença de Deus”
(Hb 9:24). Ele simpatiza conosco, dando-nos certeza de que não seremos
rejeitados, mas, em vez disso, receberemos misericórdia e graça (Hb 4:15, 16)
por causa do que Jesus fez por nós. Como ocorria no santuário terrestre, o
santuário celestial é o local em que é feita a “propiciação” (expiação ou
reconciliação) pelos pecados dos crentes (Hb 2:17). O Jesus que morreu por nós
é o mesmo que ministra no Céu em nosso favor.
7. Leia Apocalipse 1:12-20; 8:2-6; 11:19 e 15:5-8. Que
símbolos do santuário aparecem nessas passagens?
Os versos do estudo de hoje são apenas alguns dos textos do
Apocalipse em que aparecem símbolos do santuário. Na verdade, a maioria das
principais seções do livro contém ou começa com uma cena do santuário.
A primeira cena introdutória mostra Cristo, vestido como
Sumo Sacerdote, andando entre os sete candeeiros (Ap 1:12-20). A segunda mostra
a sala do trono celestial, e os versos revelam uma grande variedade de imagens
do santuário: trono, tochas de fogo, mar, Cordeiro que foi morto, sangue, taças
de ouro cheias de incenso (Ap 4; 5). A terceira cena se refere ao serviço
contínuo de intercessão no contexto do primeiro compartimento do santuário
celestial (Ap 8:2-6). A quarta cena, central, nos dá um vislumbre da arca da
aliança no segundo compartimento (Ap 11:19). A quinta cena revela todo o
tabernáculo no Céu (Ap 15:5-8). A sexta cena é única, no sentido de que não
contém referências explícitas ao santuário, talvez para ilustrar que a obra de
Cristo ali está concluída (Ap 19:1-10). A cena final trata da gloriosa cidade
santa na Terra, retratada como o tabernáculo que “descia do Céu” (Ap 21:1-8).
Um estudo cuidadoso dessas cenas revela que elas estão
interligadas, mostrando uma progressão interna na salvação realizada por Deus:
Cristo na Terra, Seu ministério celestial no primeiro e segundo compartimentos,
o fim de Seu ministério como Sumo Sacerdote e, finalmente, o tabernáculo da
Nova Terra.
Estudo adicional
“Paulo teve uma visão do Céu e, ao falar sobre as glórias
dali, a melhor coisa que podia fazer era não tentar descrevê-las. Ele nos disse
que os olhos não viram e os ouvidos não ouviram, nem penetrou em coração humano
o que Deus tem preparado para aqueles que O amam. Você pode chegar aos limites
da sua imaginação e aplicar suas maiores habilidades para compreender e
considerar o peso eterno de glória e, no entanto, seus sentidos finitos, fracos
e cansados com o esforço, não podem alcançá-lo, pois há um infinito para além.
Será necessária toda a eternidade para desdobrar as glórias e revelar os
preciosos tesouros da Palavra de Deus” (Ellen G. White, SDA Bible Commentary
[Comentário Bíblico Adventista], v. 6, p. 1107).
“A morada do Rei dos reis, em que milhares de milhares O
servem, e milhões de milhões estão em pé diante dEle (Dn 7:10), sim, aquele
templo, repleto da glória do trono eterno, onde serafins, seus resplandecentes
guardas, velam a face em adoração – não poderia encontrar na estrutura mais
magnificente que hajam erigido as mãos humanas, senão pálido reflexo de sua
imensidade e glória. Contudo, importantes verdades relativas ao santuário
celestial e à grande obra ali levada a efeito pela redenção do homem, eram
ensinadas pelo santuário terrestre e seu culto” (Ellen G. White, O Grande
Conflito, p. 414).