Génesis 2:1-2 “ASSIM os céus, a terra e todo o seu exército
foram acabados.
E havendo Deus
acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua
obra, que tinha feito.
E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele
descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera.”
No Shabat, os judeus relembram que o mundo não foi dado à
humanidade para que ela faça dele o que bem entender, mas que se trata de uma
criação de Deus. Os judeus também relembram a escravidão pela qual passaram no (Êxodo
16) Egito e a promessa divina de que jamais voltarão a ser escravizados
novamente – as obrigações diárias com o trabalho e outros compromissos são
ferramentas pelas quais os judeus procuram cumprir o propósito divino na terra,
e elas não nos devem nos escravizar.
O Shabat é a
identidade judaica, é a noiva de Israel, a alma gémea do povo judeu. É uma das
formas mais poderosas e significativas de se demonstrar o judaísmo e transmiti-lo
aos filhos e netos. Os judeus têm permanecido fiéis no cumprimento do Shabat em
diferentes lugares, culturas e circunstâncias nos últimos 4 mil anos da nossa
história – desde os dias mais gloriosos até os mais negros e trágicos. Nas
palavras de um famoso escritor judeu: “Mais do que os judeus têm guardado o
Shabat, o Shabat tem guardado o povo judeu”.
O Shabat representa
momento de prazer. É um dia em que os judeus preparam uma mesa de refeição
farta e diversificada. Completam a beleza desse dia o brilho das velas,
cânticos suaves e uma revigorante noite de sono. No decorrer da semana é um
desafio aproveitam corretamente os bons momentos que a vida traz. Eles
compreendem que somos seres físicos num mundo materialista, por isso,
precisamos estar atentos para que os nossos prazeres diários não tomem conta de
nós de forma descontrolada. Mas, no Shabat, tanto o corpo como o espírito e
mente são igualmente elevados para um plano espiritual superior. Assim, os
prazeres provenientes da comida, bebida e do descanso tornam-se uma mitzvá, um
ato divino.
O Shabat é espiritualidade. É a alma da semana. Os
cabalistas ensinam que no Shabat todas as realizações da semana anterior
alcançam plenitude e elevação e, a partir do Shabat, todos os esforços e
projetos para a próxima semana são abençoados. Guardar o Shabat garante a
bênção de Deus para o sucesso de toda a semana de trabalho que está por vir e
enche as nossas vidas de propósito e significado.
O Shabat é uma visão prévia
do Mundo Vindouro. “Naquele tempo, não haverá fome nem guerra, nem ciúmes ou
rivalidade. O bem será pleno e todas as iguarias estarão disponíveis como
poeira. O Mundo inteiro estará dedicado a conhecer a Deus”. Também os sábios e
profetas de Israel descreveram a Era da Redenção – o “sétimo milénio” quando
ocorrerá a realização e o cumprimento de seis milénios da história humana na
sua empreitada para fazer da terra a morada de Deus (Is. 66).
O Shabat é o nosso
vislumbre semanal deste mundo vindouro.
E, assim como o gosto
de uma deliciosa comida, só é possível compreender o que é o Shabat uma vez que
se tenha experimentado vivê-lo plenamente. Portanto, em última análise, a
resposta mais adequada para a pergunta “O que é o Shabat?” é: “Experimente-o!”.
Os Rituais
O Shabat é especial porque Deus o santificou tornando-o
singular. A característica especial desse dia é demonstrada pelos judeus
através atitudes pouco comuns e através de rituais específicos que tornam única
a experiência de guardar o Shabat. Esses rituais dão ao Shabat uma áurea de
separação dos demais dias da semana e trazem a santidade do Shabat às nossas
vidas.
Tudo começa com a
forma como recepcionam o Shabat. Trabalham com intensidade na sexta-feira para se
prepararem para o momento em que começa o Shabat. De repente, 18 minutos antes
do pôr-do-sol, tudo se torna quieto e tranquilo. As mulheres acendem as
velinhas de Shabat, cobrem os seus olhos e recitam a bênção apropriada. A
tranquilidade do Shabat que cai sobre a família permanece até o serviço
religioso na sinagoga, na sexta à noite: “Venha meu Amado conhecer sua Noiva;
saudemos o Shabat”. Após o kidush, realizam uma refeição festiva em honra ao
Shabat. Ao final, ao entardecer de sábado, realizamos a cerimónia de Havdalá,
em despedida ao Shabat.
São com esses
rituais: as velas, as orações, o kidush, as refeições festivas e a havdalá, que
cumprem a mitzvá de guardar o Shabat. Tais rituais s habilitam a receber a santidade
do Shabat na vida.
As velas
Entram na paz e santidade do Shabat acendendo as velas ao
pôr-do-sol de todas as sextas-feiras. As velas devem ser acesas 18 minutos
antes do pôr-do-sol, momento que marca o começo do Shabat. A mitzvá de acender
as velas foi entregue especialmente às mulheres judias, mas, por ser uma
obrigação a ser realizada em todas as casas judaicas, se uma mulher não estiver
presente, as velas podem ser acesas pelo homem da casa.
A partir do momento
em que uma jovem já puder compreender o significado do Shabat e recitar a
bênção (aproximadamente aos três anos de idade) ela já deve acender a sua
própria velinha de Shabat. A jovem deve acender antes da sua mãe, pois somente
assim sua mãe poderá prestar-lhe assistência, caso necessário. As velas devem,
preferencialmente serem acesas na mesa, ou próximas a ela, onde é realizado o jantar
de Shabat.
É costume depositar
em um cofre de caridade algumas moedas antes de acender a vela de Shabat. A
razão prática disso é o fato de que, no Shabat, os judeus não podem manusear
dinheiro, assim, dão uma caridade extra antes do início do Shabat para
compensar a ausência dessa boa ação nesse período. A razão espiritual é para
que relembrar a importância de considerar as necessidades daquelas pessoas
menos favorecidas, especialmente em momentos de grande elevação, como o Shabat.
Após depositar as
moedas e colocar de lado a caixinha de Tzedaká, acende as velas de Shabat.
Jovens solteiras
acedem apenas uma vela. Após casadas, as mulheres devem acender duas velas.
Algumas têm o costume de acender uma vela para cada membro direto da família
(filhos e filhas).
Levam as mãos sobre as chamas e a seguir encostam ao peito, como
se traxessem o calor da luz para o seu interior.
Cubrem os olhos e
recitam a bênção:
Transliteração: Baruch Atá Ado-nai, E-lo-hei-nu Me-lech
Ha-Olam, A-sher Ki-de-sha-nu Be-mitz-vo-tav Ve-Tzi-va-nu Le-Ha-dlik Ner Shel
Sha-bat Ko-desh.
Tradução:
Bendito És Tu, Senhor
nosso Deus, Rei do universo, que nos santificou com Teus mandamentos e nos
ordenou acender as velas do Shabat.
Tiram as mãos dos
olhos e observam por alguns instantes a luz das velas. Cumprimentam a sua
família e os presentes com um caloroso Shabat Shalom!
Logo após acender as
velas, é costume as mulheres pedirem por saúde e felicidade para seus filhos.
As meninas também oferecem asa suas orações nesse momento especial, enquanto
descobrem a beleza dessa prática que trará vida e luz para o resto de suas
vidas.
Após acender as velas
e recitar a bênção, o Shabat é efetivamente acolhido. O fogo é considerado
muktzá no Shabat. Por isso, é proibido tocar nas velas e nos castiçais até ao
final do Shabat.
As boas-vindas
Ao escurecer, após acender as velas, vamos a pé até a
sinagoga para a oração especial de Shabat. A cerimónia, conhecida também como
Cabalat Shabat, é famosa por suas rezas poéticas e melodias marcantes.
A cerimónia se inicia
com “Lechu Neranená” – “Venha, vamos cantar”. O destaque da noite fica com a
reza “Lechá Dodi”. Neste hino místico, os judeus descrevem os preparativos para
as boas-vindas ao Shabat. O refrão é: “Venha, meu Amado, para se encontrar com
sua Noiva; saudemos o Shabat!”.
A prece de Lechá Dodi
foi escrita por Rabi Shlomo Halevi Alkabetz (5260-5340), professor e cunhado do
renomado cabalista Rabi Moshe Cordovera. O autor assinou o seu nome, Shlomo
Halevi, como acróstico na primeira letra de cada estrofe.
Após as rezas de
boas-vindas ao Shabat, seguem as demais: Barechu, Shemá, a Amidá e Alênu.
Caso não seja
possível ir a pé para a sinagoga, ou não haja uma na cidade, as orações podem
ser feitas em casa.
Kidush e refeição
noite sexta-feira
Yom Hashishi. “E os céus e a terra e todas as hostes que
neles habitam foram finalmente concluídas
E abençoou D-us o sétimo dia, e o
santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que D-us criara e fizera.”
(Génesis 1:31 2:1-31)
Antes da refeição de
Shabat, na sexta-feira à noite, é realizada uma pequena cerimónia, chamada de
Kidush. Logo após chegar da sinagoga, reúna sua família, amigos e convidados ao
redor da mesa. É costume recitar o cântico “Shalom Aleichem” em agradecimento à
presença dos anjos na cerimónia de Cabalat Shabat.
Em seguida, recita-se
“Aishet Chayil” , poema de autoria do Rei Salomão, em louvor ao Shabat e
agradecimento às mulheres. Segundo o Midrash, esta homenagem foi originalmente
composta pelo Patriarca Abraão, como um tributo por ocasião do falecimento da
sua esposa, Sara. É costume todos os homens refletirem e agradecerem, ao final
de mais uma semana, a importância e o papel que as suas esposas têm
desempenhado nos afazeres diários. O poema também se refere à “Rainha do Shabat”,
a alma gémea espiritual de toda a Nação Judaica.
Agora, enchem o copo
de kidush até a borda de forma com que transborde um pouco – usar um recipiente
de prata, com detalhes e adornos a sua volta – não usar copo plástico.
Levanta-se, segura o
copo com a mão direita, e recitam a bênção:
Yom ha-shishi, Va-yechulu ha-shamayim ve-haaretz ve-chol tzevaam.
Va-yechal Elohim ba-yom ha-shevii melachto asher asah, va-yishbot
ba-yom ha-shevii
mi-kol melachto asher asah.
Va-yevarech Elohim et yom ha-shevii va-yekadeish oto, ki vo shavat
mi-kol melachto asher bara Elohim laasot.
Savri maranan:
Baruch ata Hashem,
Elokeinu melech ha-olam,borei peri ha-gafen. (Os presentes respondem: Amen)
Baruch atah Hashem,
Eloheinu melech ha-olam, asher kideshanu be-mitzvotav ve-ratzah banu,
ve-Shabbat kodesho be-ahava uve-ratzon hinchilanu, zikaron le-maaseh
vereishit, techilah le-mikraei kodesh, zeicher litziat mitzrayim.
Ki vanu vecharta
ve-otanu kidashta mi-kol ha-amim, ve-Shabbat kodshecha be-ahavah uve-ratzon hinchaltanu.
Baruch ata Hashem, mekadeish ha-Shabbat. (Amen)
Tradução:
No sexto dia. E o céu
e a terra e tudo o que neles há foi concluído. E Deus terminou no Sétimo Dia a
obra que Ele havia iniciado, e Ele descansou no Sétimo Dia de toda obra que Ele
tinha realizado.
E abençoou Deus o
sétimo dia, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus
criara e fizera.
Atenção senhores!
Bendito És Tu, Senhor Nosso Deus, Rei do Universo, que criaste o fruto da
videira.
Bendito És Tu, Senhor Nosso Deus, Rei do Universo, que nos
fez santos com os Teus mandamentos e nos agraciaste, e nos deste o Seu Santo
Shabat com amor e para nosso benefício, para que seja a nossa herança, e como
lembrança da Criação. É a primeira das festividades sagradas, comemorando o
êxodo do Egito.
Pois Tu nos
escolheste e nos santificaste dentre todos os povos da terra, e com amor e boa
vontade nos deste o Teu Shabat santificado como herança. Bendito És Tu, Senhor,
que santificas o Shabat.
Sentam-se, bebem pelo
menos metade do copo de vinho, e derramam o restante em copos para os demais
que estão presentes.
Certificam-se que
todos bebam ao menos um golo do vinho.
A cerimónia de kidush
está completa! Agora estão prontos para a refeição de Shabat.
O kidush deve ser
feito pelo chefe da casa.
A refeição
Depois do kidush, lavam
as mãos como de costume para comer pão. Cada pessoa enche um copo grande e
derrama a água duas ou três vezes, primeiro na mão direita, depois na esquerda.
Levantam as mãos à altura dos olhos e recitam a seguinte bênção:
Baruch Atá A-donai,
Elo-henu Melech Ha’Olam, asher kidshanu be’mitzvotav vetzvanu al netilat
yadaim.
Bendito És Tu, Senhor
Nosso Deus, Rei do universo, que nos santificaste com os Teus mandamentos e nos
ordenaste a lavagem das mãos.
Em silêncio, todos
retornam à mesa. O chefe da casa ergue as duas chalot e recita a hamotzí e
todos dizem Ámen. Corta a chalá, mergulha-o em sal antes de comer. Come o
pedaço de chalá salgada imediatamente após recitar a bênção, sem nenhuma
interrupção. O restante da chalá é cortado e distribuído para os demais que
devem recitar a bênção individualmente, mergulhando-a no sal e ingerindo-a em
seguida.
chalá |
É mandamento divino
expressar alegria e deleite no Shabat. Essas obrigações são cumpridas através
de três refeições festivas: à noite, almoço de Sábado e ao entardecer. São
servidas as melhores comidas que podem dispor que devem incluir carne ou frango
e peixe.
Havdala e o término
do Shabat
Na cerimónia de Havdalá os judeus proferem quatro bênçãos:
a) a hagafen, sobre um copo de vinho; b) a bênção proferida sobre especiarias
aromáticas; c) a bênção sobre a vela; e d) a bênção de Havdalá em si, de
agradecimento a Deus que criou a separação entre o sagrado e o mundano (o
Shabat e os dias da semana).
Após recitar alguns
versos de inspiração e a bênção sobre o vinho, são recitadas as bênçãos sobre
as especiarias aromáticas e sobre a vela. Com o copo de vinho na mão, recita-se
a bênção de Havdalá. Depois de concluir a bênção, aquele que a recitou senta-se
e bebe parte do vinho do copo.
Após a Havdalá, a
chama da vela é extinta mergulhando-a no vinho que transbordou no prato sob o
copo.
Muitos têm o costume
de, após apagada a chama da vela, mergulhar os dedos no vinho derramado e
esfregá-los na testa, logo acima das sobrancelhas. Isto se dá, pois, ao cumprir
esta mitzvá, abrem-se os olhos para a semana que está por vir. Outros também
têm o costume de passar os dedos nos bolsos como uma forma de antecipar o desejo
de uma semana próspera e abundante.