O SANTUÁRIO - O BODE POR AZAZEL

"(...) Receberá da comunidade de Israel dois bodes como oferta pelo pecado (...) Depois pegará os dois bodes e os apresentará ao SENHOR, à entrada da Tenda do Encontro*. E lançará sortes quanto aos dois bodes: uma para o SENHOR e a outra para Azazel. Arão trará o bode cuja sorte caiu para o SENHOR e o sacrificará como oferta pelo pecado. Mas o bode sobre o qual caiu a sorte para Azazel será apresentado vivo ao SENHOR para fazer propiciação, e será enviado para Azazel no deserto.

Então sacrificará o bode da oferta pelo pecado, em favor do povo, e trará o sangue para trás do véu (...) Assim fará propiciação pelo Lugar Santíssimo por causa das impurezas e das rebeliões dos israelitas, quaisquer que tenham sido os seus pecados.

(...) Quando Arão terminar de fazer propiciação pelo Lugar Santíssimo, pela Tenda do Encontro e pelo altar, trará para a frente o bode vivo. Então colocará as duas mãos sobre a cabeça do bode vivo e confessará todas as iniqüidades e rebeliões dos israelitas, todos os seus pecados, e os porá sobre a cabeça do bode. Em seguida enviará o bode para o deserto aos cuidados de um homem designado para isso. O bode levará consigo todas as iniqüidades deles para um lugar solitário. E o homem soltará o bode no deserto..." (Levítico capítulo 16. Tradução: Nova Versão Internacional).
O MINISTÉRIO NO LUGAR SANTÍSSIMO
Em posse do sangue do bode do SENHOR (que representava o sangue de Cristo), o sumo sacerdote aplicava-o no altar dos holocaustos e no altar do incenso, os quais haviam sido diariamente aspergidos com o sangue das ofertas que simbolizava os pecados confessados (Levítico capítulo 4; Hebreus 9:1-10). E, no lugar santíssimo, ele aplicava esse sangue no propiciatório(a), na presença de Deus, a fim de satisfazer as exigências de Sua lei; pois, pecado é transgressão da lei e sem sangue não há perdão (I João 3:4; Hebreus 9:22). Essa ação simbolizava o imensurável preço que Cristo teria de pagar pelos nossos pecados (Hebreus capítulo 9; Isaías capítulo 53). Desta forma, o sumo sacerdote efetuava expiação pelo povo e pelo santuário. Assim ambos eram purificados.1

Na etapa seguinte, representando a Cristo como mediador, o sumo sacerdote assumia sobre si mesmo os pecados que haviam poluído o santuário e os transferia para o bode vivo, Azazel; que era em seguida conduzido para fora do acampamento do povo de Deus. Este ato removia os pecados do povo, os quais durante o ano, tinham sido simbolicamente transferidos para o santuário através do sangue ou da carne dos sacrifícios diário de perdão. Deste modo o santuário estava habilitado para mais um ano de atividade ministerial (Levítico 16:29-34).2 E assim todas as coisas eram colocadas em ordem entre Deus e Seu povo.3

O dia da expiação ilustra o processo de julgamento que lida com a erradicação do pecado. A expiação realizada nesse dia prefigurava a aplicação final dos méritos de Cristo a fim de banir a presença do pecado por toda a eternidade, e para tornar efetiva a reconciliação do Universo, sob o governo harmonioso de Deus.
O BODE PARA AZAZEL
A palavra "Azazel" provém do hebraico עזאזל ('aza'zel) e é formado por dois radicais: אזל ('azal) que significa "ir embora", e, עז ('ez) que significa cabra, bode.4, 5 A análise cuidadosa de Levítico capítulo 16 revela que Azazel representa Satanás, e não Cristo, como alguns erroneamente ensinam. Os fatos que apoiam esta interpretação, são:
O bode para Azazel não era morto como sacrifício, e assim não poderia ser usado como um meio para trazer o perdão, uma vez que "sem derramamento de sangue, não há remissão" (Hebreus 9:22);
O santuário era inteiramente purificado pelo sangue do bode do SENHOR antes que o bode de Azazel fosse introduzido no ritual (Levítico 16:20);
A passagem trata Azazel como um ser pessoal que é o oposto, e se opõe, a Deus. Levítico 16:8 diz, literalmente: "E lançará sortes quanto aos dois bodes: uma para o SENHOR e a outra para Azazel." (Levítico 16:8).
Portanto, na compreensão da parábola do santuário (Hebreus 9:9-12), o bode do SENHOR simboliza a Cristo e Seu sacrifício e, o bode de Azazel como símbolo de Satanás. No Dia da Expiação, o sumo sacerdote purificava o santuário mediante o sangue expiatório do bode do SENHOR, somente depois que a expiação se achava completa é que o ritual envolvia Azazel:
"Quando Arão terminar de fazer propiciação pelo Lugar Santíssimo, pela Tenda do Encontro e pelo altar, trará para a frente o bode vivo. Então colocará as duas mãos sobre a cabeça do bode vivo e confessará todas as iniqüidades e rebeliões dos israelitas, todos os seus pecados, e os porá sobre a cabeça do bode. Em seguida enviará o bode para o deserto aos cuidados de um homem designado para isso. O bode levará consigo todas as iniqüidades deles para um lugar solitário. E o homem soltará o bode no deserto." (Levítico 16:20-22 - NVI)
A flexão verbal "confessará" usada no verso 21 é traduzida do hebraico והתודה (yadah), e significa: Arremessar, jogar, atirar, lançar, entregar. O ato de "colocar as mãos" sobre o bode Azazel não representava a confissão de arrependimento pelos erros cometidos mas, lançava sobre ele, a responsabilidade (a culpa) pela origem e consequências dos pecados; em seguida ele era banido do arraial israelense para sempre. Isso simboliza de fato o que ocorrerá no futuro com Satanás. Assim como o bode de Azazel era exilado para o deserto, restando-lhe tão somente aguardar a morte, da mesma maneira Satanás será solto neste mundo desolado e sem vida; e, aguardará o fim dos mil anos para receber sua devida punição (Apocalipse 20:7-10).

Cristo através de Seu precioso sangue, proporcionou meios para que o pecador obtenha perdão de seus pecados e alcance a salvação pela graça, que é obtida mediante a fé depositada nEle. Porém, o sacrifício de Jesus não ausenta ou elimina a punição final àquele que fora o originador do pecado. A sentença final será declarada e imposta a Satanás e aos seguidores ao fim do julgamento (cf Levítico 23:28-30). O ritual realizado com o bode de Azazel ilustra a eliminação do pecado, "raiz e seus ramos" (Malaquias 4:1); serão como se nunca tivessem existidos (Ezequiel 28:15-19).
A liturgia mosaica que era realizada pelo sumo sacerdote no santuário terrestre é similarmente, hoje, realizado por Cristo no santuário celestial (Hebreus capítulo 8). Ele tem ministrado, mediante o Seu sangue derramado na cruz do Calvário, os benefícios de Sua completa expiação ao Seu povo(b, c).

Quando Ele houver completado Sua obra de redenção e purificação do santuário celestial, lançará os pecados de Seu povo sobre Satanás, o originador e instigador do mal. De nenhuma forma se pode dizer que é Satanás quem efetua a expiação pelos pecados dos cristãos penitentes (Apocalipse 22:14). Cristo realizou essa obra por completo. Mas Satanás será responsabilizado por todos os pecados que ele sagazmente proporcionou e instigou para que os salvos praticassem.

A visão que João teve do milênio, descreve em traços vívidos o banimento de Satanás. Ele viu que no começo dos mil anos, "o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás", foi posto em cadeias e confinado ao "abismo" (Apocalipse 20:2-3). Isso retrata a cessação temporária das atividades de perseguição e engano de Satanás. Ele estará impedido de enganar as nações "até se completarem os mil anos" (Apocalipse 20:3).

O termo abismo utilizado por João vem do grego αβυσσος (abussos) e descreve apropriadamente as condições da Terra nessa ocasião.6, 7 Bombardeada pelas sete últimas pragas que antecedem imediatamente a volta de Cristo e coberta com os cadáveres dos ímpios, a Terra estará em completa desolação.8 Confinado à Terra, Satanás estará "preso" por meio de uma cadeia de circunstâncias. Uma vez que sobre a Terra não existe qualquer vida humana, Satanás não tem a quem tentar ou perseguir. Restando-lhe aguardar a sua devida punição (Apocalipse 20:10-15).
"Durante mil anos Satanás vagueará de um lugar para outro na Terra desolada, para contemplar os resultados de sua rebelião contra a lei de Deus. Durante este tempo os seus sofrimentos serão intensos. Desde a sua queda, a sua vida de incessante atividade baniu a reflexão; agora, porém, está ele despojado de seu poder e entregue a si mesmo para contemplar a parte que desempenhou desde que a princípio se rebelou contra o governo do Céu, e para aguardar, com temor e tremor, o futuro terrível em que deverá sofrer por todo o mal que praticou, e ser punido pelos pecados que fez com que fossem cometidos."9
"Quão apropriado é que o último ato de Deus no trato com o pecado, seja fazer retornar sobre a cabeça de Satanás todos os pecados e culpas que, partindo originalmente dele, causaram uma vez tal tragédia na vida daqueles que agora foram libertados pelo sangue expiatório de Cristo. Completa-se desta forma o ciclo, encerra-se o drama. Somente quando Satanás, o instigador do pecado, for finalmente removido, poder-se-á afirmar apropriadamente que o pecado foi erradicado do Universo de Deus. Neste sentido harmonizado podemos entender de que modo o bode emissário tomava parte na 'expiação' (Levítico 16:10). Com os justos estando salvos, os pecadores 'desarraigados' e Satanás não mais existindo, então - e somente então - estará o Universo no mesmo estado de harmonia em que se encontrava antes do surgimento do pecado."10

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Texto baseado em "O Ministério de Cristo no Santuário Celestial", Nisto Cremos, 7.ª ed., 2003, cap. 23, p. 414-415. & "O Milênio e o Fim do Pecado", ibidem, cap. 26, p. 473-474.
*Santuário ou Tabernáculo Terrestre (Êxodo 25:8-9 cf Levítico 40:34-38).
a. Cobertura, tampa da arca da aliança que armazenava os Dez Mandamentos e onde Deus Se manifestava (Êxodo 25:17-22).
1. Levítico 16:16 cf Hebreus 9:11-15; Daniel 8:14 cf Hebreus 8:1-3, Hebreus 9:23-28.
2. Studies in Biblical Atonement II: The Day of Atonement. In: Sanctuary and Atonement, p. 115 e 125.
3. The "Little Horn", the Saints, and the Sanctuary in Daniel 8. In: Sanctuary and Atonement, p. 206-207. Too in: TREIYER, Day of Atonement, p. 252-253.
4. GENESIUS, W. (1950). Hebrew and Chaldee Lexicon to the Old Testament Scripture, London: Samuel Bagster & Sons, p. 617a.
5. FREEDMAN, D. N. (2000). Eerdmans Dictionary of the Bible, Amsterdam University Press, p. 136.
6. Isso indica que a condição da Terra durante o milênio reflete pelo menos em parte as condições da Terra no princípio, quando ela era "sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo". - SDA Bible Commentary, edição revista, vol. 7, p. 879.
7. WHITE, E. G. Grande Conflito, O; sec. IV, cap. 41, p. 658-659.
8. Apocalipse 16:18-21; II Tessalonicenses 2:7-8; Jeremias 25:31-33 cf Isaías 24:4-6.
9. WHITE, E. G. Ob. cit., § 2.º, p. 660.
10. SDA Bible Commentary, edição revista, vol. 1, p. 778.

1 comentário:

  1. Fonte original deste estudo:
    https://sites.google.com/site/iasdonline/home/reparador/azazel

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